Publicada: 02/10/2016 (15:24:44) . Atualizada: 15/10/2016 (12:51:53)
> Confira todas as colunas "Descobrindo a Música", assinadas pelo músico Ricardo Yabrudi
Alguém perguntaria: Como posso misturar sons naturais, artificiais e eletrônicos? Como posso misturar, por exemplo, sons de chuva, berimbau e um sintetizador? Isso seria possível?
Talvez pudéssemos usar o canto, que é em primazia o som mais natural e divino possível. Talvez pudéssemos junto a ele acompanhá-lo com um violão, uma percussão e uma bateria - misturaríamos por fim um teclado eletrônico de última geração. Eis aí, um exemplo de conjunto de instrumentos que pode gerar uma mistura para executar rock, pop, pagode, samba e muitas outras formas musicais. Podemos perceber nitidamente que a melhor mistura é aquela mais plural possível. Essa combinação é o “caos”, que por sinal é o ideal filosófico pré-socrático. Como uma explosão, os sons de tipos e gerações diferentes se juntam para erradicar o pré-conceito. Quem diria que o canto nos primórdios da era primitiva seria acompanhado, no futuro, por uma “cama” de acordes de um teclado. Quem diria que o tambor de um clã primitivo, usado em performances místicas objetivando unicamente o encontro real de um homem primitivo ao plano metafísico espiritual, estaria num futuro, ligado ao ranger de uma guitarra elétrica ligada a um multi efeito; agradando e fazendo delirar uma trupe de adoradores de rock. O bom da música é que através da história as regras que existem em outras formas de arte são quebradas ou mesmo negadas. A existência de normas para a música é cômico. Quanto mais ousadia nas misturas, mais interessante se torna o produto final.
Tentativas, às vezes, são feitas para permutar os instrumentos de percussão, como a bateria acústica, as congas e agogôs, por instrumentos eletrônicos. Essas tentativas podem ser vistas e ouvidas em CDs e vídeos, travestidos pelos sons dos teclados, porém, em grande maioria, as grandes bandas nunca abandonam os instrumentos rítmicos acústicos. Uma bateria acústica tem um lugar expressivo e querido no meio musical. A visão que nos toca é que, os músicos atuais, juntam períodos históricos de épocas distantes em um único momento; eis a beleza da música.
Misturas, mais expressivas, encontramos no samba-rock, no jazz-rock etc. Misturando estilos aumentamos mais ainda a liberdade musical e sua criação. Os instrumentos de percussão são uma expressão da mais alta qualidade, pois encontramos em seu aparato panelas, apitos indígenas, colares de conchas marinhas, panelas de cozinha e assim vão ziguezagueando nossos criativos percursionistas.
Elas são artistas e inventores, que como descobridores, também desvendam sons que para o público em geral é apenas o uso de utensílios comuns do dia a dia, porém, com sua inventividade e talento conseguem colorir sua música com o som de uma garrafa ou um bater de colheres. São amigos dos sons naturais.
A mistura das três formas de sons aqui oferecidos são o que mais vemos na nossa contemporaneidade. Misturar instrumentos com perfis bem distantes oferecem ao ouvido humano uma sensação de que o mundo está dentro da composição que se ouve. O primitivo se mistura ao barroco com suas cordas arcadas, e a música eletrônica cria as atmosferas do futuro que realiza no devir, o presente. O popular, ou pop, se apresenta com orquestras e uma percussão intrigante conectando com o canto, o mais inusitado encontro de instrumentos de gênese diferente.
Não é a toa que arranjos que originariamente foram para uma banda de rock convencional podem ser ouvidos com orquestra de cordas. Devemos agradecer à genialidade e à “Liberdade” dos artistas, que nunca deveriam obedecer a nenhum pré-conceito ou regra que limite a criatividade. Estaríamos fadados, por certo, a caminhar na música com a mesmice, entretanto, esta incomoda e enjoa.