Publicada: 18/10/2016 (13:58:22) . 26/10/2016 (11:35:43)
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A percussão natural troca o som artificial dos tambores por sons do corpo. Tarzan bateu no peito e deu seu grito como anúncio aos animais. Alguém estalou o dedo e acompanhou um ritmo de jazz. Alguém bateu palmas no aniversário para cantar “parabéns pra você”.
O homem, sempre motivado pela música e seu ritmo, desprovido de algum instrumento, usou o próprio corpo como um. Essa substituição se deve a alguns fatores. O primeiro é a própria falta de um instrumento artificial, para servir como acompanhamento de percussão. O segundo é de não ter aprendido nenhum instrumento, ou por comodidade ou por opção. O terceiro é o de querer realmente usar o corpo como instrumento.
No primeiro caso, surge às vezes como no caso de uma música executada por alguém, a plateia acompanha com as palmas, por exemplo, perseguindo o ritmo. No segundo, muitas pessoas preferem ser percussionistas ocasionais porque não quiseram se especializar ou se profissionalizar. No terceiro caso, porque se dedicaram inteiramente ao seu corpo fazendo dele o templo da sua música.
Podemos usar a voz como ritmo também.
A voz como ritmo e o corpo também podem desprezar os sons artificiais e eletrônicos. Estes últimos podem inclusive ser imitados.
O corpo humano consegue ser uma grande “mimese” da natureza. Ultrapassa todos os seus limites, inclusive imitando o eletrônico sem que se programe ou haja um invento ou projeto. A natureza ultrapassa a ciência numa rapidez espantosa. Se não possuímos instrumentos que estão na categoria dos sons artificiais, o homem com sua inventiva maestria se abstém muito bem sem eles. É a inventividade dele em superar os objetos físicos com o seu corpo.
Assim começou a música nos primórdios, o homem com sua própria natureza produzindo sons. Felizmente não abandonou essa técnica ou atividade prazerosa. Artisticamente contemplou seu clã e nossa sociedade moderna, criando arte a partir de seus membros, carne e pele; o som mais natural possível. Talvez tenha tido inveja dos pássaros e seus cantos, talvez da própria natureza e resolveu imitá-la, consequentemente trouxe para seu mundo da criatividade o mundo real traduzido pelos sons de sua natureza.
O homem sempre quer mais, quer ser até quem não é. Esse prazer ele traz consigo desde que a razão humana lhe mostrou os benefícios de poder ser quem não é afinal se transformar em tambor, guitarras, pássaros, gaitas, lhe confere o tom mais mágico que alguma espécie pode possuir. Os mistérios e o misticismo são ocupados por essa irreverente realidade que ele consegue com essa atividade musical. Consegue parecer e transparecer instrumentos que não existem e que não enxergamos, todavia, os ouvimos com nossas almas atordoadas de tanta magia realística, estonteantemente bela.