
(Foto Ilustrativa)
Músicos tecem nos instrumentos a roupa
que usam para suas festas interiores
Publicada: 11/11/2016 (08:05:07)
Atualizada: 16/11/2016 (14:13:27)
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"Descobrindo a Música", assinadas
pelo músico Ricardo Yabrudi
Os instrumentos artificiais são manuseados pelos humanos. Já vimos algumas performances de alguns animais tocando, porém, ainda não estamos certos o bastante para avaliarmos com certeza o grau de racionalidade de sua música quando tocam. Sendo o homem autor desse legado seria interessante assinalar na história da música o que é tocar bem, ou melhor, o que é tocar racionalmente oferecendo prazer a quem ouve e a quem toca?
Diz-se popularmente que quando alguém toca “bem”, tem qualidades divinas. Diz-se: “Ele toca divinamente”. Ouvimos também: “Ela tem uma mão de fada, ao tocar a harpa”. Davi, o rei de Israel, tocava “lira”, uma espécie de harpa, e acalmava Saul seu predecessor quando ainda era rei, pois sabendo que Davi iria ficar em seu lugar entrava em acessos de delírios e desequilíbrio emocional. Que poder é esse da música, que não sabemos se é metafísico ou espiritual, que tem o poder de substituir remédios e até agir como profilaxia?
Responderia a essas questões a musicoterapia? Será que uma música bem tocada anularia o nervosismo e desequilíbrio mental de Saul, o rei que seria substituído por Davi? Como um som poderia substituir uma sessão de psicanálise? Que questão é essa de podermos substituir o “logos” pelo audível? Afinal, a palavra não seria o suprassumo do “res cogitans” (a coisa pensante), derivando a afirmação de Descartes: “penso logo existo”. Pensamos em palavras, contudo, seria possível parodiar essa frase cartesiana em: “ouço, logo existo” e me acalmaria e viveria melhor? Será que as pessoas que vivem escutando música, ouvindo CDs, cantarolando no banheiro, seriam mais felizes? É certo que quando alguém que vive de mau humor, e se levanta da cama cantando, é porque ele está em um processo de reestabelecimento da felicidade.
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O poder da música, por ser metafísico, ainda não inteiramente descoberto pelo homem, está encoberto por uma verdade ainda não revelada.
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Sabemos que, contrariamente pela experiência, notamos uma melhora no estado geral quando alguém ouve música. Digo contrariamente, porque sendo metafísica sua questão filosófica, não conseguiríamos entender sua questão empírica. Sabemos apenas que funciona bem. Devemos principalmente às mãos de fada esse estado de “alegramento humano”. Quando ouvimos música “bem tocada”, nos reportamos a um mundo da perfeição, de onde vem a fantasia e os mistérios dos espíritos fortes. Esse mundo se declara como no canto da sereia, o canto do boto rosa, o canto do rouxinol, o canto raro e anual do uirapuru.
Os homens deveriam se orgulhar de tão grande proeza, como a de extrair beleza de instrumentos. Suas mãos tecem nos instrumentos a roupa que usam para suas festas interiores. A magia complexa de produzir sons afeta sempre quem ouve. Não acreditam quando se deparam com um músico virtuoso, ou um galante servo da música que às vezes dedilha suavemente um “andante”, ou um “largo”, propiciando um mundo onde se mergulha a alma humana, fora da realidade social. São esses os humanos que possuem mãos de fada que transformam o impossível no possível, no real em irreal, no físico em metafísico, na magia de tocar em esperança de vida prazerosa para os homens.