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Quem é o músico?

Por que às vezes o músico se torna um ídolo? Não sendo um ídolo, poderá ser um bom músico?

Música  –  08/12/2016 10:35

Publicada: 05/12/2016 (17:55:42) . Atualizada: 08/12/2016 (10:35:35)

> Confira todas as colunas "Descobrindo a Música", assinadas pelo músico Ricardo Yabrudi

Músico é aquele reproduz a música. Quem inventa uma música é o compositor, consequentemente, pode também ser um músico - o que executa sons de qualquer espécie. Nomenclaturas como “intérprete” são também bem vindas. Esse é o que interpreta em algum instrumento a música que se ouve. Um intérprete soa mais polido ou erudito em alguns meios artísticos musicais. A nossa questão é: “Por que às vezes o músico se torna um ídolo?”. Ou melhor: “Não sendo um ídolo, poderá ser um bom músico?”. Sendo um bom músico poderá desprezar a idolatria alheia, porque a arte é a expressão humana natural, sem objetivos pessoais? Qual a conexão entre sucesso e boa música?

A história da música está cheia de exemplos de sucesso. A beleza facial e corporal dos personagens musicais esteve também presente como estampa e cartão de visita de músicos e grandes artistas. Liszt, o grande pianista do século XIX, exibia seu belo perfil, ao tocar. Fazia muito sucesso com sua bela estampa.

Hoje em dia, como no passado, constatamos a beleza do artista como uma parte da sua fama. Será que a fama dura por causa da beleza e é sustentada por ela? No começo talvez, todavia, a imagem e semblante do artista começam a se tornar costumeira e sua obra principia aparecer sem a ajuda das formas corporais, mesmo porque, as pessoas envelhecem. O que se ouve entra pelos ouvidos e não pelos olhos. A música sempre será auditiva.

Com o advento do vídeo atrelado à música, por certo, a imagem do ídolo distorceu e como um “ruído”, mesclou-se à composição e à interpretação do artista. As apresentações de shows fizeram do semblante humano e do aspecto facial ingredientes superlativos para a apreciação estética. Com o advento das mídias de imagens a música se associou e se misturou. Essa sociedade trouxe uma inovação que os séculos passados só viram nas apresentações ao vivo. Desde a Grécia antiga, o coro cantado, descrito por Aristóteles, em sua “Poética”, já expunha os temas das tragédias pelos artistas, que apareciam ao vivo. Hoje o “ao vivo” ganhou uma “temporalidade” ou até uma “intemporalidade” - porque as podemos vivenciar com imagens gravadas e à disposição de várias épocas pela internet ou outras formas de mídia.

Devemos, no entanto, registrar que música é som e vídeo é imagem. As duas formas, a princípio, não se misturam. O vídeo é uma coisa. Som é outra coisa. Inclusive os cabos de ligação de sinal nos aparelhos eletrônicos são diferentes. Cabo de vídeo é diferente de cabo de áudio. Os dois cabos entram em locais diferentes.

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Esse “fenômeno” que “mistura duas espécies de mídias” é o que a estética chama de “Poli Arte”. Seriam duas ou mais espécies artísticas juntas.

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O compositor Eric Satie escreveu peças para piano, gorila e senhorinha. Enquanto o pianista executa a peça musical, uma senhorinha vestida em trajes do século XIX passeia e se defronta com um gorila. Esse compositor não é da vanguarda do século XX, porém, do XIX. Esse é um fenômeno comum que a poli arte proporciona. Deveria ser visto como uma manifestação “saudável”, aliás, a arte é inovadora. O próprio teatro e o cinema são a prova da rica poli arte.

Quem é o músico? Alguém que está “focado” nos sons e não se dispersa em outras formas de arte? Se ele faz o papel de ator também deverá ser contado como ator-músico. Música por sua vez é tudo o que compreende “apenas” o universo musical. Com o tempo a nobreza musical dos intérpretes aparece e fica pra trás tudo o que poderia ser espúrio. Os grandes ídolos que venceram a imagem, em detrimento de sua obra e performance, venceram aliados ao tempo, determinação e beleza artística. A chance que alguns têm, que é o de serem reconhecidos por alguma beleza em sua imagem, não deve desprezá-la. As mídias atuais não desprezam a imagem - por serem elas associadas à imagem e sons. Por outro lado, quem prima pelo “audível” também tem a oportunidade de crescer artisticamente pela música e só pela música.

O uirapuru é um pássaro raro, que canta de dez a 15 dias por ano. Suas aparições mais raras ainda. Quando conseguimos vê-lo encontramos um pássaro pequeno, mas seu canto comprido e belo agrada e encanta como mágica qualquer um, sendo sua expressão um símbolo nacional. Como dizia Nietzsche: “As coisa raras, para os raros”.

Por Ricardo Yabrudi  –  yabrudisom@hotmail.com

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