
(Foto Ilustrativa)
Formação musical de um indivíduo não passará provavelmente pela quantidade de material sonoro e estilos que ouvirá durante sua vida, porém, pela qualidade desse material
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O que devo escolher dentro do cardápio musical que se é oferecido na nossa cultura. Muito provavelmente não saberemos a extensão dos estilos musicais de um país. Incluo nessa tese os cantos indígenas de tribos ainda não conhecidas na Amazônia brasileira. Sem alongar o pensamento, nem diria sobre a curiosidade dos estilos históricos, como o barroco e a renascença, sem falar da música medieval e da grega, que mal temos registros. Possuímos registros na “Problemata” de Aristóteles sobre assuntos pertinentes à música, porém, a reconstrução fidedigna da música dessa época estamos ainda distantes.
Difícil não é escolher os itens do cardápio, contudo, o “próprio cardápio”. Há os que preferem o cardápio da música barroca, outros da clássica, outros do estilo romântico ou do rock inglês. Nesta linha de pensamento formam os nichos e as tribos. O pessoal do pagode é fiel, o da MPB nostálgica tem seus ferrenhos adeptos. Deverá ser a música ouvida num tom cosmopolita ou regionalista? Acredito que o regional também possa ser universal, como é o caso de Guimarães Rosa. Algumas tribos indígenas só conhecem sua música.
Por que com um cardápio tão variado no nosso mundo globalizado ainda reclamam de sua “escassez”? Parece que nunca estamos satisfeitos. Com um rico cardápio culinário multirregionalista ainda muitos brasileiros insistem em comer sushi e sashimi. Muitos também com um vasto cardápio de música brasileira insistem em ouvir música barroca alemã, contudo, Bach nunca será demais, ademais imprescindível na minha parca opinião.
Alguns compositores marcaram a cultura mundial. Outros nem foram descobertos. Vivemos num mundo de descobertas históricas e a cada dia descobrimos peças inéditas históricas que vêm entupir nosso acervo musical. Muito se descobriu sobre Villa-Lobos depois de sua morte. Muitas obras são resgatadas por arqueólogos da música. Para que tanto material? A metade já não bastaria? O banquete interminável e a gula frenética pela busca de novas iguarias nunca serão suficientes porque a música não satisfaz a fome humana porque é espiritual e metafísica, e os universos dos ideais humanos nunca serão saciados. Shows de rock e festivais duram, às vezes, dias.
O que será digno? O que se tem ou o que se terá? Talvez estejamos garimpando à procura de uma pedra filosofal musical que nunca será encontrada. Essa gula, “pecado” ou “erro” da mente humana que nunca se satisfaz traz confusão na escolha desse banquete imperial que é o mundo musical cosmopolita. Estamos em um restaurante de comida a quilo com milhares de itens e só conseguimos ingerir no máximo 1 quilo.
A formação musical de um indivíduo não passará provavelmente pela quantidade de material sonoro e estilos que ouvirá durante sua vida, porém, pela qualidade desse material. Mas o que é qualidade na música para a formação do ser humano?