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Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Filhos Bastardos

Kaio Filipe lança single que critica o atual cenário sociopolítico

Canção é um blues que vem gerando polêmica nas redes sociais e ganhou o selo Parental Advisory

Música  –  02/11/2020 18:42

 
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(Foto: Divulgação)

 

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“Vejo a arte de uma forma que vai muito além do mero entretenimento. Acho que tudo o que fazemos neste mundo gera consequências, e que somos responsáveis por essas consequências. E não fazer nada diante das injustiças que acontecem também é fazer algo”. 

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“Filhos Bastardos”, o mais recente single do Kaio Filipe, já vem provocando polêmica nas redes sociais. É um blues. Uma crítica política/social. Ganhou o selo Parental Advisory, ou seja, é inapropriada para ouvintes mais jovens. Acredite: Só por causa de um “puta que pariu” na letra da canção. Isso não preocupa o músico, que toca em bares, restaurantes, casamentos, festivais e, de um tempo para cá, tem focado na parte autoral. A música vai ganhar clipe e integrar um EP. 

Kaio Filipe começou cedo. O primeiro contato do jovem artista com a música foi por intermédio da mãe dele:

- Ela sempre cantava para mim, desde quando eu ainda estava em seu ventre. Aos 7 anos, um parente deixou um acordeom na minha casa, eu sempre fui curioso. Um belo dia, com a minha mãe cantarolando pela casa, comecei a reproduzir a melodia da música que ela cantava. Ela, encantada com isso, me colocou para fazer aula de teclado.

Dois anos depois, Kaio Filipe já estava tocando com o seu professor na banda da igreja. Já a mãe do garoto cantava em bares com um tio dele, que é virtuoso tocando violão, e aquilo sempre chamou a sua atenção. Não demorou muito para Kaio migrar para os instrumentos de corda.

- Com o tempo, fui pegando gosto por guitarra e rock. Minha primeira influência foi o Slash, acho que foi a influência da maioria dos guitarristas que nasceram na década de 90, né. A popularidade e influência dele são inquestionáveis. Ao longo do tempo, com o amadurecimento, me veio uma necessidade de buscar pela origem de tudo.

Com isso, inevitavelmente, Kaio Filipe começou a ouvir Hendrix, Albert King, BB King, Stevie Ray Vaughan, e foi aí que o blues o fisgou definitivamente. Ele chegou a cursar engenharia elétrica até o quinto período, por influência familiar.

- Mas chegou a um ponto em que eu precisava me decidir sobre quem eu realmente era, pois qualquer caminho que eu seguisse exigiria muito de mim, era impossível conciliar. Foi uma decisão muito fácil. Óbvio que era a música! Tive que aguentar alguns parentes torcendo o nariz e dando pitaco na minha vida por algum tempo, mas é a minha vida, quem sabe sou eu.

Confira a entrevista com Kaio Filipe

Quando e como você compôs "Filhos Bastardos"? Como foi esse processo de composição?

A canção "Filhos Bastardos" foi composta em 2018, eu tocava na banda Orpheu e, em uma de nossas reuniões, foi estipulado um prazo de uma semana para que cada um dos integrantes compusesse uma música, e a minha no caso foi essa. Estávamos passando pela ascensão do movimento bolsonarista, e já tínhamos o resultado do segundo turno das eleições. Eu tinha uma semana pra escrever, e, como um "Puta que pariu" que sai involuntariamente quando tropeçamos, essa música saiu dentre meus dedos.

Você escreveu nas redes sociais: “A canção fala sobre minha indignação relacionada a esse cenário sociopolítico caótico que vivemos em nosso país, com tanto descaso com a população, com a fragilização da democracia, e em como a nossa ‘pátria amada’ (referência ao Hino Nacional) nunca foi tão odiada por seus filhos bastardos, filhos esses que, atrás de um patriotismo falso e mofado, escondem um entreguismo e um obscurantismo imenso”. Resumindo: É uma crítica política, certo? São poucos os artistas (e aí estão incluídos desde os alternativos até os famosos mundialmente) que se enveredam hoje em dia por esse caminho musical. Foi uma escolha natural fazer música com esse teor? Ou você pensou e repensou, antes de produzi-la?  

Sim, é claramente uma crítica política. Foi uma escolha natural minha, pois eu vejo a arte de uma forma que vai muito além do mero entretenimento. Acho que tudo o que fazemos neste mundo gera consequências, e que somos responsáveis por essas consequências. E não fazer nada diante das injustiças que acontecem também é fazer algo. Então, eu quero que minha música sirva para pelo menos despertar a curiosidade e o interesse das pessoas sobre questões políticas e sociais que interferem diretamente em nossa vida.

Ouça a canção “Filhos Bastardos”

A canção foi produzida durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). De que forma esse momento influenciou para você decidir que era a hora de produzir a canção?

Bom, eu estava confinado em casa. Já não podia mais fazer shows, só me restava voltar toda a minha atenção para a gravação e produção musical. Foi quando eu comecei a montar meu estúdio de gravação: o In The Box Records.

“Filhos Bastardos” vem com o aviso Parental Advisory, ou seja, é inapropriada para ouvintes mais jovens. Você mesmo demonstrou certa preocupação com o conteúdo da música, quando entrou em contato comigo. Isso pode prejudicar que ela chegue a um número maior de ouvintes? Ou você não se preocupa com isso?

Eu acredito que seja um pouco complicado de passar na TV aberta em horário nobre, mas aquele "puta que pariu" precisava sair. Além de legítimo, ele faz jus à estética da música, expressa a revolta do brasileiro. E eu primeiro penso na arte, depois penso em marketing, projeção e outras questões paralelas.

A canção é um blues. A letra foi composta já tendo em mente esse gênero musical? Ou foi uma escolha que surgiu durante o processo de produção?

Blues é o gênero que eu mais consumo hoje em dia e, sem sobra de dúvidas, é onde eu mais me identifico. O blues surgiu com o lamento dos escravos afro norte-americanos, durante o intervalo de suas obrigações, e sempre teve o objetivo de contar histórias. Eu achei apropriado pra expressar o meu lamento.

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"Se você não é um artista grande, que dispõe de um enorme alcance e interesse de grandes marcas, não vale a pena fazer live gratuita, a não ser que seja algo completamente recreativo". 

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Você já esperava que a canção despertasse reações negativas em algumas pessoas? Vi comentários no YouTube atacando, não só a letra como a parte técnica/ musical. 

Obviamente que sim, a música é um dedo cheio de pimenta e sal dentro da ferida dessa gente mesquinha. Quanto à parte técnica da música, eu estou completamente tranquilo, existe um abismo de diferença entre crítica e ataque. O ataque é raso, genérico e geralmente não condiz com a realidade. Tem 11 anos que eu toco guitarra, só eu sei o quanto eu abri mão para poder fazer o que eu faço. Horas do meu dia, dinheiro que eu poderia estar gastando relaxando num bar, faculdade de engenharia trancada, enfim, não vai ser meia dúzia de frustrados que vai definir com um comentário a minha musicalidade.

Essa canção pode integrar um EP ou CD (pelo menos em plataformas digitais)? Ou você não pensa nisso?

Sim, e vai. Mas antes de lançar um EP eu pretendo lançar um videoclipe dessa música e também lançar mais um single.

A pandemia prejudicou todos os artistas. Se não estou enganado, você foi um dos poucos que fizeram live paga. Até que ponto vale a pena apostar em lives gratuitas? Você já voltou a se apresentar presencialmente?

Sobre live gratuita, se você não é um artista grande, que dispõe de um enorme alcance e interesse de grandes marcas, não vale a pena, a não ser que seja algo completamente recreativo. Sim, eu já voltei a me apresentar presencialmente, mas ainda está muito devagar, principalmente porque eu bato muito na tecla do cachê justo, pois eu sei o valor dos meus investimentos e também da minha arte. E esse cenário de pandemia é complicado, porque há uma grande demanda, ninguém mais respeita a quarentena, os bares estão lotados, os preços estão absurdamente altos, claro, consequência do dólar. Mas, por algum motivo muito peculiar, o cachê do músico é a única coisa que pode abaixar, sempre! No final, eu sei que eu tô sozinho nessa, a grande maioria dos músicos não tem a menor noção de consciência de classe, só olham para o seu umbigo e vivem de migalhas da burguesia.

Confira a letra de “Filhos Bastardos”

Tomo o primeiro copo pra despertar dessa agonia
Tento esquecer que lá em casa a geladeira tá vazia
Cansado de ser assaltado em plena luz do dia
Ao ler no jornal que o preço da gasosa só subia
Desgraça no noticiário já virou rotina e diversão pra esses vermes assistirem de Brasília
Infortúnios em série, não me sinto mais seguro
Reflexos de um passado inconsequente e obscuro
Pobreza extrema nos aguarda num breve futuro
Enquanto os monstros se alimentam em restaurantes de luxo
Facilidade e presunção movido a regalias
Realidade onipresente instalada em Brasilia
Democracia?!
Puta que pariu que hipocrisia
Um governo fraudulento eleito por mentes vazias
Corrompido o povo vende os seus votos pra bandidos
E no final até quem não é leigo sai comprometido
Minha revolta nunca se alimentou de tantos motivos
E a pátria “amada” nunca foi tão odiada por seus filhos
Bastardoooos!!
Democracia?!
Puta que pariu que hipocrisia
Um governo fraudulento eleito por mentes vazias
Corrompido o povo vende os seus votos pra bandidos
E no final até quem não é leigo sai comprometido
Minha revolta nunca se alimentou de tantos motivos
E a pátria “amada” nunca foi tão odiada por seus filhos
Bastardoooos!!

> Lançamento: 10 de outubro de 2020. Gravação: fevereiro a março de 2020. Studio: In The Box Records. Gênero: blues rock. Duração: 5:08. Composição: Kaio Filipe. Produção: Kaio Filipe. Contatos profissionais: (24) 99984-2531. Instagram: @kaiofilipeblues | Facebook: @kaiofilipeoficial | YouTube: Kaio Filipe 

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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