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Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Viajante Solo

Viagem ao mundo dos sonhos

Eveline Padilha decidiu mudar de vida, deixou o trabalho formal para conhecer culturas das mais variadas; Espanha, Itália, Croácia, Bósnia, Grécia, Turquia, Jordânia, Israel, Tailândia, Bali, Nova Zelândia, Havaí e Nova York

Pelo mundo  –  03/02/2014 17:00

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(Fotos: Divulgação)

Koh Phi Phi, Tailândia: Viajante viveu histórias incríveis
com pessoas que conheceu nos mais diversos lugares 

Tempo disponível e dinheiro nas mãos. Eveline Padilha decidiu mudar de vida. Deixou uma condição profissionalmente estável para trás e ganhou o mundo. Conheceu culturas das mais variadas: Espanha, Itália, Croácia, Bósnia, Grécia, Turquia, Jordânia, Israel, Tailândia, Bali, Nova Zelândia, Havaí e Nova York. Agora retornou a Volta Redonda. Mas não vai ficar por muito tempo. A segunda etapa da viagem ao mundo dos sonhos está por vir. 

Confira a entrevista com Eveline Padilha 

Quando e como nasceu essa vontade de largar uma vida profissionalmente estável e viajar pelo mundo? Foi uma decisão pensada e repensada, ou algo de imediato? E qual o objetivo?

Eu tinha muito tempo livre por trabalhar embarcada, o que me dava longas folgas. Isso me fazia sentir muito solitária, pois a vida de todos os meus amigos sempre foi trabalho de segunda a sexta (a maioria das vezes, sábado e domingo). Parece piada, mas esse motivo também me complicava pra conhecer namorados e ter novas amizades. Então, por falta de companhia, decidi viajar sozinha uma primeira vez para Arraial Ajuda, na Bahia, e tentar pela primeira vez na vida um albergue, pois me disseram que eu encontraria muitos outros viajantes solos (não gosto da palavra solitário, dá uma impressão de tristeza que nada condiz com o espírito do viajante que escolhe ir sozinho).

Era verdade, conheci pessoas incríveis lá, incluindo os primeiros viajantes de longa data. E eram justamente eles os donos das histórias mais incríveis que eu ouvi por lá, de dar aquela vontade de ser eles, e viver o 100% da vida como eles faziam, não derramada no sofá depois de um dia de compras no shopping. E quanto mais eu entrava em contato com essas pessoas, mais certeza eu tinha de que precisava não exatamente ir pra longe, mas passar um bom tempo por minha conta e risco, só eu, sem a segurança de voltar pra casa ao menor sinal de qualquer coisa dando errado. Por dois anos, fiquei nessa de gastar todas as minhas folgas viajando para lugares aqui no Brasil mesmo, e já juntando dinheiro para um dia, sair por aí. O dia veio quando o contrato com minha empresa terminou de repente, e eu tinha o tempo e o dinheiro nas mãos. Ficou bem claro pra mim: é agora ou nunca. 

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# Ephesus, Turquia

E as reação das pessoas, principalmente da sua família? Como você resolveu isso? Foi algo complicado ou naturalmente fácil em sua vida?

Minha família levou um choque (sou boa nisso) e ficou relutante de início. Talvez, muito relutante. Porém, depois de um tempo, quando eles viram o quão feliz eu tava vivendo tudo aquilo, e a aparente mudança que eu fui sofrendo através das fotos e dos textos que eu escrevia, eles foram se acalmando, e no final eram os que mais levantavam a bandeira da minha viagem. Quem ama a gente sabe o que faz a gente feliz 

Tudo resolvido, qual foi o primeiro lugar para onde você viajou? Por que essa escolha? E depois, quais foram seus destinos?

Antes da empresa perder o contrato e me demitir, eu já tinha decidido passar o Ano Novo em Islã Mujeres, México. Passagens compradas com bastante antecedência, albergue reservado, data de volta marcada, e tudo veio só a calhar, eu iria pra lá, e ao invés de voltar para o Brasil já emendaria com o próximo destino. Mas por causa de uns problemas com o banco, tive que voltar para o Brasil, passei três dias em casa, coloquei a mochila nas costas e fui vagando pelo Nordeste, pensando na vida.

Achar passagens de avião baratas em fevereiro não estava sendo tarefa fácil, até que lembrei de um viajante de longa data me contando do bilhete "Volta ao Mundo", onde você compra todos os voos de uma só vez com um ótimo desconto, e como eu já sonhava com vários lugares do mundo resolvi ver só por curiosidade quanto custaria a viagem dos meus sonhos. Quase caí de costas quando vi o qual mais barato era do que o que eu esperava, e assim resolvi que meu ano sabático seria na real, uma volta ao mundo. Passei o Carnaval em Olinda, e, de lá, o único voo direto que poderia pegar era pra Portugal. Nada mal, terra do meu avô, entrada para a Europa. Daí se seguiram: Espanha, Itália, Croácia, Bósnia, Grécia, Turquia, Jordânia, Israel, Tailândia, Bali, Nova Zelândia, Havaí e (ufa) Nova York. 

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# Massachusetts, Estados Unidos

Quanto tempo em média você ficou em cada lugar? Quais deles você destaca? Quais as maiores alegrias e as maiores dificuldades enfrentadas?

O tempo médio em cada lugar variou muito. Em alguns países fiquei uma semana, outros fiquei três meses. Esse é o bom de uma viagem longa e sola: o que decide sua estadia é a sua vontade, nada mais. E o acaso acontece com maior frequência, pois sozinho nós tendemos a buscar mais conexões.

Os lugares que fui que mais me surpreenderam eram quase metade deles fora do meu esquema. Foram Caye Caulker, em Belize, Barcelona; Mostar, na Bósnia; Vale das Borboletas, na Turquia; Tel Aviv, em Israel; Koh Phi Phi, na Tailândia; Queenstown, na Nova Zelândia; e North Shore, no Havaí.

Vivi histórias incríveis com pessoas que conheci num trem à noite, numa carona de estrada, numa praça no meio da tarde. Tendemos também a nos relacionar com pessoas da mesma faixa etária, e nessa viagem as pessoas mais incríveis que tive o prazer de estar ao lado já estavam chegando ou já estavam há muito tempo na terceira idade. Pessoas que depois de um encontro meteórico te deixam sorrindo sozinho no meio da rua. Esse romantismo todo da vida eu nunca tinha sentido de verdade, e essa é uma alegria que nunca mais irá embora de mim. E quando se está vivendo o que realmente te faz feliz, dormir numa praça, não ter dinheiro algum por três dias, passar mal com alguma comida, são apenas um desafiozinho, jamais uma dificuldade. Não há dificuldade, se você está vivendo tudo que sempre quis. 

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# Waikiki, Havaí

Essa foi a primeira etapa, certo? O que você tem roteirizado e quando começam as novas viagens? Qual será o seu próximo destino?

Bom, agora eu estou de volta ao processo de fazer dinheiro novamente, para depois viver um novo sonho. Muita coisa pode mudar, mas o que vem rondando à minha cabeça é Japão, Índia e, em primeiro lugar, Tanzânia e sua ilha linda, Zanzibar. 

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# Queenstown, Nova Zelândia

Tantos lugares diferentes. Que análise você faz das culturas conhecidas, das artes, dos povos?

No final, somos todos os mesmos. O sonho comum é crescer, ter uma profissão, uma casa, uma família, amigos, viver longamente. De modo diferente, todos queremos chegar no mesmo lugar, mas justamente esses diferentes modos que nos faz pensar sermos tão diferentes. E é aí que mora a graça toda. Quantas maneiras se pode trabalhar, casar, quantas maneiras se pode construir uma família, celebrar momentos, explicar coisas. 

É possível traçar um paralelo do que você encontrou lá fora com a nossa realidade aqui em Volta Redonda?

Volta Redonda é bem o retrato do povo brasileiro. Uma cidade de acordo com a realidade do Brasil. Cidades do interior como a nossa tendem a ser mais genuínas quanto ao que realmente é o país, sem aquela firula criada pro turista. Seria o mergulhar de verdade na cultura e modo de um povo. 

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# Playa del Carmen, México

O que mudou essencialmente na sua vida, na sua forma de encarar o dia a dia, depois dessas viagens?

O pequeno nãoo me importa mais. Pessoas de mau humor na rua, filas no mercado, atrasos, coisas que não dão certo. Isso me afetava de um nível absurdo, hoje em dia eu simplesmente mudo os planos. O desapego fortaleceu, de pessoas, costumes, principalmente de coisas. Não ignoro mais pessoas, não sinto mais medo delas quando ando nas ruas. Aprendi, ao invés de negar situações que já estão acontecendo comigo, tipo se trancar no quarto e ficar de deprê, a simplesmente dizer a mim mesma que aquilo é verdade e partir pra outra, não ficar tentando dar "jeitinho". Assim como não podia controlar o tempo, se iriam atrasar ou não, se as pessoas poderiam ou não me hospedar, e ter que conviver constantemente com o "não deu, tá fechado, foi negado", não posso controlar a minha vida, todas as variáveis dela, e, ao invés de me desesperar e tentar entender, simplesmente entendo que essa é a situação e me adapto a ela. É deixar a vida com teu jeito e tua cara, não importa em que país, situação financeira ou companhia você esteja. 

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# Gili Trawangan, Indonésia

O que você trouxe na bagagem da vida (não material) para dividir com as pessoas?

Para dividir com as pessoas eu trouxe minhas fotos, meus metros de conversa pra quem quiser me ouvir, e o suporte 24 horas para qualquer pessoa que queira alguém que as incentive mudar algo na vida que não necessariamente os fará mais estáveis, mas, com certeza, mais felizes. 

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# Plitvice Lakes, Croácia

E a questão econômica, como você viabilizou essas viagens?

Financeiramente eu me preocupei com as contas pendentes que eu já tinha. Me certifiquei de que teria dinheiro para continuar pagando as parcelas, mesmo fora do país. Depois foram as passagens aéreas: comprei todas de uma só vez através de um programa chamado "Volta ao Mundo", onde se compra com bastante antecedência todas as passagens aos destinos desejados, fazendo a volta completa ao mundo. Isso me fez uma economia enorme! E, de resto, era o dinheiro para o básico do básico, basicamente o albergue, as refeições e o transporte. Compras, festas e passeios pagos não faziam parte do meu roteiro, e ainda assim não teria dinheiro para pagar o básico por um ano. Trabalhei por comida e acomodação, bebia em casa com os amigos, dormi em sofás de amigos que fiz pela estrada, peguei muita carona, e assim, um ano se foi! 

Serviço

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

1 Comentário

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  • Anjohippe

    A busca de cada um é de cada um...mas ir em busca é o que faz, pessoas de pessoas brilhante.