
(Foto: Divulgação)
Juliana Paes deu conta do recado; atriz
é aplicada e sua Gabriela não soou falsa
O mais célebre romance de Jorge Amado chegou ao fim na noite de sexta-feira, 26, com a missão de dever cumprido. A adaptação feita por Walcyr Carrasco e lançada numa das faixas mais cobiçadas pela casa não se transformou no sucesso esperado, obtendo uma repercussão limitada e audiência um pouco maior do que a de “O astro”, que ocupou o horário no ano passado. Ainda que não tenha cativado o público, o desfecho da trama rendeu 29 pontos de média, com pico de 31. Essa versão de “Gabriela”, no entanto, é apenas correta. Se fosse uma trama original, seria pouco. Em se tratando de um remake, trata-se de um desperdício.
Essa foi a terceira versão do romance amadiano que migra para a televisão (a primeira foi exibida pela TV Tupi), comprovando a força de Jorge Amado como o autor mais adaptado para a mídia televisiva. Após assistir à nova adaptação e refletir sobre críticas já publicadas, resolvi expor algumas polêmicas que inquietaram o público: as comparações entre as duas versões da telenovela. Alia-se a isso a exposição das semelhanças com a literatura, quando se trata, na verdade, de uma nova mensagem, num novo meio.
Protagonista foi alvo de críticas pesadas
Desde que foi noticiada como a próxima novela das 11 da Rede Globo, “Gabriela” passou a ser alvo de críticas. A escolha da atriz Juliana Paes para viver a personagem protagonista e homônima ao romance gerou debates de toda ordem. Primeiro, o desafio de fazer vingar uma interpretação que ficou eternizada pelo talento de Sônia Braga na década de 1970, época da primeira versão. Segundo, pela idade, já que não foram poucos os que consideraram Juliana “velha” para fazer o papel da nordestina que enlouquece a cabeça de seu Nacib e de toda a Ilhéus dos anos 1920.
Embora os comentários maldosos, a atriz deu conta do recado. A atriz é aplicada e sua Gabriela não soou falsa. Mas também não emocionou. Chama a atenção também a falta de atores negros em papéis de destaque. Como é possível falar em Bahia e em Jorge Amado sem valorizar a essência afro-brasileira? Mais uma demonstração do lugar questionável e injusto ocupado pelo negro na televisão brasileira. As raízes africanas deveriam ser mais bem interpretadas pelas novelas, sem dúvida.
Elenco afinado
A novela contou com uma primorosa reconstituição de época com cenários, figurinos, fotografia, iluminação impecáveis e uma excelente direção a cargo de Mauro Mendonça Filho e um elenco afinado, com destaque para Antonio Fagundes, Chico Diaz, Mauro Mendonça, Fabiana Karla, Ary Fontoura, Laura Cardoso, José Wilker, Humberto Martins, Maitê Proença, Nelson Xavier, Vanessa Giácomo.
Porém, não se pode dizer o mesmo a Ivete Sangalo e Marcelo Serrado. Os dois não convenceram e suas interpretações soaram caricatas.
Entre os poucos pontos altos da trama, estão as expressões como “deite que vou lhe usar” e “Jesus, Maria, José”, que viraram sucesso nas redes sociais, e as ousadas cenas de nudez, que por serem exibidas tarde da noite deram um ar diferente à novela, adicionados com humor e comédia.
Enfim, em meio a críticas, elogios, devo dizer que “Gabriela” terminou com o gosto de dever cumprido, mas não empolgou. Abraços.