
(Fotos: Divulgação)
Sr. José Alves Toledo e Dona Ana Parreira Toledo, 1950
Ana Toledo: “Tenho essa cidade e seus moradores como meus filhos, netos e bisnetos”, Ana Toledo (Toledo, 2003, p. 21).
É verdade que o Sr. José Alves Toledo foi um homem visionário, apostou no progresso coletivo de um povo que foi à luta para construir, sem medo de fazer, com vontade de ver uma nova realidade ser forjada com determinação e resiliência. Porém, não podemos esquecer de destacar uma mulher, além do seu tempo.
Dona Ana Parreira Toledo, a qual não foi tão somente companheira do Sr. José Alves Toledo, mas a matriarca de um povo, sua história, pensada no bem coletivo, sem nenhum desejo de vangloriar com o poder. A simplicidade e sabedoria são características que descrevem esta mulher.
Segundo Dona Esmeralda Maia de Castro, o Jairo, morava em Belo Horizonte - MG, quando terminou a formação em Medicina. Finalizando o curso logo foi convidado a trabalhar em hospital do Rio de Janeiro. Não gostou da experiência, desejava trabalhar em cidade menor. A movimentação da cidade grande não lhe fazia bem.
O hospital pertencia à família do Dr. Jairo, e ele, diante da oportunidade ofertada, viu-se obrigado a atuar ali, exercendo a profissão por seis anos. Nesse período a vontade de viver no interior ainda era latente. Dona Esmeralda conta que o sonho do Dr. Jairo era conhecer as praias do Rio Araguaia.
Em 1942, após seis anos de dedicação ao hospital da família, Dr. Jairo resolveu sair em férias. Realizou a longa viagem em Trem de Ferro e veio parar em Goiânia, permanecendo durante uma semana em hotel da nova Capital. Em conversa com o dono do hotel, no qual estava hospedado, explanou sobre o desejo em conhecer a Região do Araguaia. O proprietário disse que ele encontraria companhia para a bela aventura, em Itaberaí, interior de Goiás. Não pensou duas vezes, seguindo viagem. Ao chegar na cidade, comentou com o dono do estabelecimento onde hospedou o desejo de conhecer o Rio Araguaia. O homem então foi logo dizendo que, naquela região, havia chegado uns mineiros que tinham comprado fazendas na redondeza, hoje, Heitoraí. E também tinham o desejo de aventurar rumo ao Rio Araguaia.
Encantados com a beleza da região, Dr. Jairo e a caravana permaneceram, por dez dias, naquelas praias, visitando as cabanas dos índios Carajás, apreciando a beleza inebriante daquelas paragens. Chegando em Itaberaí, foi convidado a pescar no Rio Uru, em Uruana. No decorrer da pescaria, foi surpreendido por um cavaleiro que solicitou ajuda com a esposa, a qual estava entrando em trabalho de parto. Conta Dona Esmeralda que ele “conseguiu salvar a mulher, mas a criança já estava morta. Quando o povo soube que Jairo era médico, houve um acúmulo de pessoas doentes atrás de tratamento” (Castro, 2003, p. 38). Iniciava ali sua longa história de entrega, renúncia e pioneirismo no Estado de Goiás.
Conta Dona Esmeralda que, casualmente, viu o jovem médico em sua cidade natal, já residindo em Uruana. Um dia sua mãe ficou doente, solicitando então o atendimento médico. O médico em atuação era o Dr. Jairo que, prestativo, a atendeu, orientando-lhe com todo préstimo. Após aquele reencontro Dona Esmeralda, professora na cidade a convite do prefeito nomeado, à época, passou a encontrar, esporadicamente, pelas ruas do pequeno povoado, o médico que passava temporada na região.
A população sofria duramente uma onda de febre amarela, ainda não existia vacina para o controle e erradicação da doença. Na ocasião, o Dr. Jairo, diante da carência da população, decidiu ficar em Uruana para ajudar no tratamento das pessoas contaminadas.
Dona Esmeralda Maia de Castro veio de Itaberaí - Goiás, em 1942, aos 19 anos de idade, ao terminar o curso Normal - Magistério. A família Maia sempre foi motivada pelo avô materno, que desejava os parentes vivendo naquela região. Então, à ocasião, migraram para a região próxima ao povoado, Uruana, devido a necessidade de tomar posse de algumas terras recebidas em herança. A casa herdada era um sobrado, construído no período em que os Caiados governavam Goiás. Segundo Dona Esmeralda, homens visionários que buscavam o progresso das cidades interioranas.
O tempo foi passando e Dona Esmeralda continuava a encontrar Dr. Jairo, ali, pelas ruas do povoado, até que resolveram namorar e casar. Os encontros resultaram em união com linda história de trabalho e amor, mesmo que Dona Esmeralda insistisse em não casar com um mineiro. A história de Jairo e Esmeralda gerou os filhos Emilio da Maia de Castro, Márcio da Maia de Castro, Márcia da Maia de Castro e Mirci da Maia de Castro.
Quando chegou a Uruana, a cidade era ainda um pequeno povoado. Dona Esmeralda narra a insatisfação do fundador, o Sr. José Alves Toledo, ele não queria que Uruana fosse Distrito de Jaraguá, iniciando campanha para a emancipação da mesma.
Segunda a pioneira, ocorreram inúmeras discussões sobre onde passaria determinada estrada, ponte e outros. História de desafios, muito trabalho e conquistas. Alguns fazendeiros não queriam que a estrada passasse em suas terras, que pontes ficassem próximas do curral, outros, questionavam a influência de um e outros na organização da cidade. Dr. Jairo destacava ao dominar a arte de conciliar, fazendo da persuasão a ferramenta de promoção do progresso através do diálogo e respeito.
A cidade seguia a todo vapor, chegavam nordestinos, paulistas, mineiros, motivados pela ascensão da região. Dr. Jairo dividia o tempo entre atender os doentes e administrar o progresso, do lugar que crescia rapidamente. Foram dias de muito trabalho e acendimentos. Dona Esmeralda lembra que o marido “certa vez, foi a Goiânia, dirigindo uma perua, para comprar remédios os quais vendeu pelo mesmo preço que pagara” (Castro, 2003, p. 39)
O Município de Uruana, ao longo da sua história, foi privilegiado com o atendimento de inúmeros médicos com o garbo do pioneiro Dr. Jairo, destacando Dr. Leônidas Vieira de Andrade; Dr. Sérgio Vieira de Andrade; Dr. Dorival Alves Moreira; Dr. Enivaldo Machado Parreira; Dr.ª Arilete Muca de Souza.
Para fazer parte da equipe de Dr. Jairo, havia que “gostar de povo”, e administrar com o coletivo foi a fórmula do sucesso do município em ascensão.
Relata Dona Esmeralda que a cidade foi desenvolvendo com a construção das estradas e pontes, facilitando o acesso às cidades vizinhas Carmo do Rio Verde, Ceres, Itapuranga e Itaguaru culminando com a conexão das estradas à Rodovia Belém Brasília. A fundação da hidrelétrica foi um dos marcos no município, trazendo modernização para a população que utilizava somente luz de lamparina e lampião.
O Dr. Roland Von Ockel Martin, engenheiro elétrico, com o apoio do Dr. Jairo e demais pioneiros da região, em 25 de dezembro de 1955, inauguraram a primeira etapa da Companhia Hidroelétrica São Patrício (Chesp). Um período de desafios e resiliência. Diante da escassez de recursos financeiros, Dr. Jairo se viu obrigado a solicitar ajuda do então governador, à época, Pedro Ludovico Teixeira, que não apresentou objeções, auxiliando no processo de concessão de empréstimo no Banco Central. O dinheiro foi utilizado para buscar, em São Paulo, peças que faltavam para finalizar a obra que mudaria a história da região.
Dr. Roland Martin, visionariamente, mudou o percurso histórico do Vale do São Patrício, beneficiando os municípios de Carmo do Rio Verde, Ceres, Ipiranga de Goiás, as localidades de Monte Castelo, Nova Glória, Rialma, Rianápolis, Santa Isabel, São Patrício e Uruana.
“Sou muito honrada em ter participado das diversas inaugurações de órgãos públicos no nosso município. Diante dos meus olhos a construção de escolas, bancos e tantas outras instituições que compõem a nossa cidade. Tive o privilégio de ser a primeira-dama pioneira. E considero este feito de grande importância na minha caminhada evolutiva. Coloquei-me a serviço do povo, ao lado do meu marido, o saudoso Dr. Jairo Ferreira de Castro”. (Esmeralda Maia de Castro)
Dona Esmeralda Maia de Castro em 2014
“Da minha varanda lembro daqueles anos de militância com meu marido, um verdadeiro pioneiro que visava somente o progresso da nossa cidade. O tempo passou, agradeço a Deus pela oportunidade de ter contribuído de forma direta com o desenvolvimento de Uruana”. (Esmeralda Maia de Castro)