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Conflitos Sociais

Dhiogo José Caetano

dhiogocaetano@hotmail.com

Opinando e Transformando

Eduardo Marinho é o 80º entrevistado na série sobre cultura

Objetivo é formar um mosaico com o que cada um pensa desse universo multifacetado

Pelo Brasil  –  23/05/2020 20:06

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(Fotos: Divulgação)

“Viver de acordo com a própria consciência pode trazer inúmeros problemas com as convenções e os convencionais, mas é a melhor forma de se ter paz de espírito”

 

Eduardo Marinho é o 80º convidado na série de entrevistas “Opinando e Transformando”. Uma oportunidade para os internautas conhecerem um pouco mais sobre os profissionais que, de alguma forma, vivem para a arte/cultura.  

> Nome: Eduardo Marinho
> Breve currículo: Ser humano, artista multifacetado, escritor dos esquecidos, ativista social, filósofo. Protagonista do documentário “Observar e Absorver”. 

Confira a entrevista com Eduardo Marinho

> Em sua opinião, o que é cultura de paz?

Não vou saber definir o termo, em sua concepção. O que posso é formar a minha concepção, a partir da minha criação pessoal de cultura de paz numa sociedade onde a disputa, o conflito, o vencer, o lutar são estímulos sociais implantados a partir do inconsciente. De tal maneira profunda que as próprias pessoas que, inconformadas com as injustiças gritantes e cotidianas, pretendem trabalhar na evolução social pra um modelo mais humano, acabam se pondo “em luta”, como se fosse possível modificar a sociedade do confronto exatamente confrontando com ela em suas instituições. Desistindo de “vencer na vida”, das garantias sociais da classe onde nasci - garantias essas sob condições de acumpliciamento ou conivência silenciosa -, do “respeito social” devido às classes médias e altas, criei minha cultura de paz a partir da paz de espírito, se estendendo por minhas relações com pessoas, acontecimentos e situações. Quando percebi, na universidade ainda, que não poderia “mudar o mundo” como pretendiam na coletividade universitária, mudei minha vida. Valores, comportamentos, objetivos de vida, desejos, visão de mundo, tudo foi modificado, pra horror dos familiares e amigos. A partir daí, o mundo mudou pra mim e a vida ganhou significados que eu não suspeitava. Neste estágio social em que vivemos, cultura de paz é uma anomalia a ser alcançada por exceções às regras. Exceções altamente contaminantes que acabam se tornando referências nos seus meios coletivos, por onde passam e vivem.

> Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?

Não sei. Nunca pensei nisso. Eu me sentiria arrogante e pretensioso se pensasse em “ensinar as pessoas”, conscientizar outros que não eu mesmo. Precisaria me sentir em nível de consciência elevado pra querer conscientizar ou pacificar as pessoas, por isso aplico em mim tudo o que penso que deveria ser desenvolvido pelo ser humano pra alcançar harmonia social. Vejo o processo coletivo caminhando e me ponho no meu caminho, fazendo o que posso e devo na única parte da coletividade sobre a qual tenho esses poderes - eu mesmo. Com as modificações que produzi em mim mesmo, passei a tratar com a coletividade da minha maneira, e não da maneira convencional. Com o tempo notei, pelas reações, encontros e resultados, que daí resultavam consequências coletivas, sem que eu me programasse pra isso.

> Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?

A sociedade brasileira e a civilização europeia que se implantou no mundo na base do canhão, da destruição, da apropriação, da invasão, da escravização, do saque e do extermínio não foram formadas por nenhuma cultura de paz, muito ao contrário, é a cultura da guerra, do morticínio, da colonização, do domínio territorial, educacional, moral, psicológico e social. Vendo o Brasil como parte do planeta, caminhamos ao longo dos séculos e milênios em permanente desenvolvimento externo e interno, no micro como no macro. Direitos humanos é uma expressão recente, pós Segunda Grande Guerra, e ainda encontra bastante resistência nas instituições, devido ao controle dos poderes econômicos, um punhado de podres de ricos que há muitos séculos dominam os Estados - através das suas instituições, do controle das comunicações, da formação dos seus agentes de segurança e de uma capilaridade imensa nos poderes tanto públicos quanto privados. Tomar consciência da realidade é fundamental neste sentido e a aplicação individual, profunda e sincera, antecede a aplicação coletiva.

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"O que antes era só uma forma de descarregar meu coração no mundo demonstrou ter serventia pra muitos - e me cobrou responsabilidade por isso mesmo".

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> A cultura e a educação libertam ou aprisionam os indivíduos?

Qual cultura? Qual educação? A que temos é a cultura do consumo, da superficialidade mental, da ostentação, da disputa eterna, da forma acima do conteúdo. A educação que temos é enquadradora, limitante, construída por e destinada ao “mercado de trabalho”. Não há no horizonte “educacional” da sociedade o objetivo de desenvolver e alcançar harmonia social, não há o objetivo de eliminar a miséria, a exploração, a ignorância, o desabrigo, o abandono. O objetivo é formar competidores pro “mercado”, na faixa da classe média, e mão de obra barata, gente explorável, profissionais de segunda categoria, pobres, ignorantes, fáceis de enganar, de programar, de induzir opiniões. A cultura como formadora, como afirmação artística, humanizante, questionadora e propositiva, que não se deixa levar pelas seduções empresariais, pelo aceno da riqueza material, pela fama das consciências vendidas, é francamente hostilizada, sabotada, desqualificada, criminalizada ou desprezada. A educação libertadora, conscientizadora, questionadora e formadora de senso crítico é igualmente uma heresia, digna das piores calúnias, infâmias e perseguições. O diabo é “cumunista”, papo de escravista e de cérebros lavados e enxaguados no massacre midiático, publicitário, educacional e ideológico.

> Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.

Como tudo - ou quase tudo - pode ser bem ou mal usado. E é, das duas maneiras. No contexto social em que vivemos, é natural que o uso egoísta, mentiroso, distorcedor, desinformativo, truculento seja maioria. Por isso mesmo digo sempre que na atualidade e ainda por muito tempo, é preciso garimpar as exceções. Estas é que impulsionam mudanças no sentido de humanização da sociedade. De minha parte - não me arvoro a falar pelos demais - uso esse espaço basicamente com o mesmo conteúdo que exponho em meu trabalho, em evolução nesses 40 anos de vivências a partir do chão da sociedade, onde estão os mais fortes, inconscientes de sua força e importância no contexto social. Sensibilizar, esclarecer, conscientizar é uma necessidade coletiva que aplico no meu trampo a partir de mim mesmo. E ele cumpre sua função coletiva. O que antes era só uma forma de descarregar meu coração no mundo demonstrou ter serventia pra muitos - e me cobrou responsabilidade por isso mesmo.

> Qual mensagem você deixa para a humanidade?

Quem sou eu pra deixar uma mensagem pra humanidade... Não teria essa pretensão. Acho que se houver alguma, essa mensagem é o meu viver a vida, da maneira que escolhi, sem me deixar levar por ameaças, pressões ou seduções. Viver de acordo com a própria consciência pode trazer inúmeros problemas com as convenções e os convencionais. Mas é a melhor forma de se ter paz de espírito - mesmo depois das “tempestades” que frequentemente acontecem quando se modifica valores e comportamentos. Superadas as turbulências, vale demais a pena. 

> Clique e confira todas as entrevistas da série sobre Cultura "Opinando e Transformando"      

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Por Dhiogo José Caetano  –  dhiogocaetano@hotmail.com

2 Comentários

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  • René Ribeiro

    Parabéns pela entrevista. Quanto ensinamento e discernimento desse artista. Diante de tantos fatos tristes que andam acontecendo, essa é uma leitura que informa, forma e faz pensar.

  • Dhiogo Caetano

    Eduardo Marinho, obrigado por me apresentar parte do meu Eu menor que se abriga no seu Eu iluminado.