(Foto Ilustrativa)
Que tal uma experiência? Uma semana depois entrei em sua biblioteca. Ele estava sentado diante do computador, calmo.
- O conselho da escritora Camila Famosa foi não escrever com compulsão - afirmei com voz autoritária.
- E como faço? Perguntou o homem tirando os óculos e colocando-os sobre a mesa escura perto de um livro aberto, à direita do copo com refrigerante.
- Eu faço tudo de maneira compulsiva, falo compulsivamente, fumo compulsivamente, bebo refrigerante compulsivamente...
Penteou o cabelo com dedos da mão direita, levantou a cabeça e recolheu o queixo de maneira vaidosa e começou a cantar:
“Eu sou aquele amante à moda antiga
do tipo que ainda manda flores
e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreve...
porque no peito ainda abriga
Recordações de seus grandes amores...”
Além de modificar a letra, como ele cantava mal! Sua voz era rouca. Eu fiz um gesto de desaprovação.
Ele tossiu ou fingiu tossir, retrocedeu alguns passos, sentou-se na cadeira de madeira e disse: - Bem, continuando, eu sou obsessivo compulsivo e, se eu não escrever por compulsão e de maneira compulsiva, eu não consigo. E tentar escrever assim... De fininho, não sei, não! Já falei, sou um amante à moda antiga. Gosto de papel de verdade, papel no qual seja possível escrever, apagar com borracha, reescrever, colocar “x” ao lado de frases interessantes, sublinhar...
- E o que acha de deixar a mente em branco para escrever, não pensar em nada? - insisti eu fingindo indiferença.
- Acho bom, muito bom, para quem conseguir.
- Você não faria a experiência por uma semana?
O escritor não respondeu.
- Só por uma semana...
Ele, vencido, fez um sinal de afirmação com a cabeça.
Uma semana depois entrei em sua biblioteca. Ele estava sentado diante do computador, calmo. Você conseguiu? Perguntei.
- Escrever sem pensar?
- Isso.
- Consegui, sim.
Aproximei-me para ler. “Escrever sem pensar, escrever sem pensar, escrever sem pensar”... Página seguinte: “escrever sem pensar, escrever...”
- Você repetiu milhares de vezes a mesma frase! - gritei.
- Mas não pensei, retrucou ele, não pensei em nada. Eu escrevi. Diga essa verdade para Camila Famosa: Mente em branco é para escritores que têm autocontrole. Muitas vozes é o caminho para escritores com múltiplas personalidades. Ser perseguido pelos próprios personagens é para escritores paranoicos, já escrever compulsiva, obsessivamente, é para mim. Fazer o quê? Obsessão é destino.