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Vida e Sociedade

Leone Rocha

leone.rocha@gmail.com

Da Vida, da Situação do Homem Contemporâneo

Da ausência de modelos úteis

Como sair dos padrões limitantes? Como pular fora dessa espiral de progresso desenfreado que queima neurônios e relacionamentos na fogueira das vaidades?

Colunistas  –  30/06/2023 17:37

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(Foto Ilustrativa)

 

Não à-toa a sociedade está no caos que está. Precisamos, principalmente nós, homens, cada vez mais, de modelos que nos tragam um modo de vida novo, valores novos e perspectivas novas”.

 

O ser humano é um animal social que tem como uma de suas principais fontes de aprendizado e desenvolvimento a imitação e o espelhamento. Somos geneticamente orientados a reproduzir comportamentos que observamos desde a infância bem como ao longo de toda a nossa existência social. Ou seja: precisamos de referências, de modelos para imitar, nos espelhar. Ao longo dos tempos existem modelos comportamentais que são difundidos e aceitos socialmente. Esses modelos mudam, avançam. Preconceitos caem; liberdades que antes eram exclusividades de alguns, cada vez mais tornam-se de acesso da maioria. Mas ainda existe muito o que avançar. Ainda existem muitos comportamentos retrógrados na sociedade e, pior, uma grande resistência à sua mudança.

No caso do comportamento machista, ainda muito comum no mundo e em países como Brasil principalmente, esse fato é notório. Penso que, no caso dos homens, a escassez de modelos masculinos que fogem ao padrão machista é extremamente alta. É muito raro encontrar no Brasil um homem que não seja machista. Eu sou. Tento, de veras, não ser, mas minha estrutura emocional, minha formação infantil, minhas crenças e valores inconscientes e profundos quase sempre levam-me a uma oposição às mulheres.

É nesse ponto que ressalto a questão dos modelos. Na “sociedade do espetáculo” capitalista aos homens é destinado os papéis de “herói de guerra”, “rico bilionário”, “artilheiro do campeonato”, “CEO de uma grande empresa”, “galã de novela”, e por aí vai. Ao homem e de um homem nunca se espera um papel comum de “simples pai de família”. Essa pressão que o homem e a sociedade colocam sobre ele mesmo é fator que gera inúmeros conflitos sociais e toda uma série de desequilíbrios na ordem familiar e nas relações íntimas. Instala-se no íntimo de um homem nesse contexto um caos emocional que origina tantos fenômenos atrozes que estamos presenciando hoje em dia. O machismo, o homem provedor, produtivo e conquistador que vive para o trabalho e contra a família, reproduz-se a partir desses modelos estereotipados.

São esses, então, os modelos que um homem tende a copiar em sua vida. Modelos esses que entram em choque com a vida privada em família, com a cooperação, com a reciprocidade, enfim: com o próprio vínculo social.

O homem cresce doutrinado em modelos estritamente egoístas de busca de maximização do seu próprio bem-estar em detrimento do bem-estar do próximo. Não à-toa a sociedade está no caos que está. Precisamos, principalmente nós, homens, cada vez mais, de modelos que nos tragam um modo de vida novo, valores novos e perspectivas novas. Eu, particularmente, muitas vezes busco exemplos muito mais no comportamento das mulheres do que no dos homens. 

Como sair dos padrões limitantes? Como pular fora dessa espiral de progresso desenfreado que queima neurônios e relacionamentos na fogueira das vaidades? O mundo está indo por água a baixo literalmente em meio ao caos climático na esteira da produtividade capitalista. Nossas emoções e mentes estão aos frangalhos. Estamos nos matando como quem mata insetos. Condutas antiquadas ainda resistem. Precisamos, urgentemente, de um retorno à simplicidade. Precisamos recuperar a arte do bem viver. Diria mais: precisamos voltar a viver! Pois o que somente temos feito, todo esse tempo, é sobreviver ao caos. 

 

Por Leone Rocha  –  leone.rocha@gmail.com

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