(Foto: Imagem da série “Severance” / Apple TV)
O livro de Byung-Chul Han, “A Sociedade do Cansaço” (Vozes, 2024), é um raio-x de nosso tempo, apesar de que muitos conceitos criticados por ele ainda são pertinentes
Entre as minhas leituras recentes na área de humanidades está o livro de Byung-Chul Han, “A Sociedade do Cansaço” (Vozes, 2024). O autor é coreano, mas estudou e fixou-se na Alemanha, doutorando-se e dando aulas em universidades desse país. Trata-se de uma teoria social contemporânea que adota a perspectiva da pós-modernidade e a superação de esquemas teóricos consolidados na disciplina.
Um dos esquemas que estariam ultrapassados seria o do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), um dos principais teóricos sociais do nosso tempo. Para Foucault - em obras como “Vigiar e Punir”, de 1975 (lançado no Brasil pela Editora Vozes), e “História da Sexualidade”, lançado em 1976 (no brasil pela Editora Paz e Terra) - a sociedade seria uma sociedade disciplinar, punitiva e restritiva. Não teríamos a liberdade de fazermos o que quisermos e teríamos que obedecer a dispositivos de formação de subjetividade exteriores a nós, fora do nosso controle e tomada de decisão.
Para Han, com o advento da pós-modernidade, do capitalismo neoliberal, do fim das grandes narrativas como a revolução proletária, hegemonia da igreja e dos costumes tradicionais, inclusive o fim da confiança na própria ciência, levaram a um ultraindividualismo nos hábitos e relações sociais. Somado a isso veio o “yes we can!” - “sim, nós podemos!”, trazendo o discurso o qual afirma que as pessoas podem qualquer coisa se usarem os métodos e as decisões corretas. O coach e a PNL estão tão em evidência não por acaso.
Assim, o autor coreano afirma que saímos de uma sociedade restritiva para uma altamente permissa onde tudo pode. Nisso estabelecemos metas, nos autoexploramos, nos levamos à exaustão para atingir metas e sonhos, e então vem o cansaço. Estamos todos cansados, frustrados, deprimidos por querermos tudo e não chegarmos nem perto.
Achei a obra de Han um raio-x de nosso tempo, apesar de que muitos conceitos criticados por ele ainda são pertinentes. Para pessoas de minoria, o mundo ainda é bastante restritivo. Mas, de fato, crescemos com a indústria cultural e uma pressão de mercado pra seguir nossas vontades individualistas. Então chegamos na fase adulta e isso custa caro. O bem comum como norte nunca foi tão relevante.