(Foto Ilustrativa)
A shantala promove a integração entre os pais e suas crianças;
a massagem é capaz de aliviar cólicas, regularizar o sono, equilibrar
o desenvolvimento psicomotor, acalmar e eliminar tensões do bebê
Na extensa fila única para pagar algumas compras, notei uma criança a mexer nos produtos que estavam expostos nas prateleiras. A senhora que estava atrás de mim a repreendeu pegando seus braços carinhosamente e a levou para perto de si. Observei uma linda menina, com olhos verdes, bem vestida, que deveria ter uns 10 anos, pelo tamanho e altura. Segurava em seus braços uma boneca enorme e seu sorriso foi cativante quando encontrou o meu. Uns segundos depois ela diz:
- Vou te esperar lá fora, vó.
- Não. Fica aqui perto de mim.
- Mas tem muita gente. Vou ficar ali no final do corredor.
- Não! - Desta vez a voz foi mais irritada.
- Eu vou ficar lá no final, te vendo de lá. - Insistiu bravamente.
Ao ver que eu estava ouvindo tudo e acompanhando com o olhar esse breve diálogo de libertação, a avó consentiu. Olhou pra mim e sorriu meio amarelado.
- Está muito calor aqui. - Eu disse, tentando justificar a impaciência da menina.
- Calor nada. Ana é assim mesmo. Hiperativa. Tadinha, toma remédios desde novinha. Não para quieta em lugar nenhum.
- Por isso que é bom praticar esportes pra gastar energias. A senhora a leva?
- Eu não. Tenho problemas de saúde. Tenho que cuidar de mim. Ela toma remédios pra ficar calma. Minha filha, a mãe dela, trabalha e o marido também. Eles não têm tempo.
Essas crianças... O que fazer...
Tentei argumentar que nos fins de semana havia lugares na cidade que se podiam fazer caminhadas, corridas. Mas ela foi irredutível. Paguei as compras e, ao chegar na porta da saída, ainda estava ouvindo a avó me contar seus próprios problemas de saúde: cirurgias no coração, depressão e recente viuvez. Escutei tudo com a maior boa vontade possível.
Só interrompi quando perguntei pela sua neta que não estava no local combinado. Olhei ao redor e nem sinal. A avó, que a esta altura já se apoiava em meu braço numa intimidade pela atenção que eu a ofereci, me disse seguramente que ela já devia estar no estacionamento. Deixei que ela me conduzisse até lá, enquanto continuava sua narrativa de vida. Meu olhar a ouvia, mas meu coração e mente torciam para que ela estivesse certa e sua neta estivesse no local combinado. Chegamos no estacionamento e lá realmente estava Ana, esperando junto com o motorista, que abriu a porta do carro para que aquela senhora elegante entrasse. Ao recusar o convite da carona e nos despedirmos com abraços e agradecimentos da parte dela, comecei a refletir sobre aqueles breves minutos ao lado do inesperado que só me faz aumentar os temores que tenho com relação ao futuro destas crianças, independente de qual classe social ela pertença.
Medicações de alívio imediato em troca do vínculo afetivo
Está cada vez mais comum a infância ser entregue a medicações de alívio imediato em troca do vínculo afetivo. É mais fácil diagnosticar como hiperativa esta geração que já nasce disputando espaço com a sobrevivência automatizada sobre os efeitos da velocidade de informação. Especialistas classificam como doença e não é minha função desmentir a ciência. Quando uma relação é doente, naturalmente é transmitida a todos que nela estão envolvidos.
Sei de casos em que as consequências futuras são pesarosas quando o uso indiscriminado de medicações para "curar" esta patologia ultrapassam a prescrição médica e certos remédios já são presença garantida na lista do orçamento familiar.
Há tantas técnicas milenares de tratamento alternativo para esse "distúrbio", basta pesquisar e se informar.
Penso em Ana, a criança deste texto. No abraço que ela me deu ao nos despedirmos, parecia que ela sabia que eu a entendia e tentava explicar para sua doce avó que existe uma vida em formação, querendo simplesmente uma atenção hoje, para que amanhã ela não sofra do coração, de depressão e de indiferença.