(Fotos: Arquivo Pessoal)
Sonho realizado: Este colunista conhece a Vedete do Brasil, em
novembro de 2003, no Miss Piraí; foram momentos de grandes alegrias
O país se despediu de sua mais proeminente vedete. Virgínia Lane morreu na tarde da segunda-feira, 10, no Hospital São Camilo, em Volta Redonda, aos 93 anos. Completaria 94 anos no próximo dia 28. O corpo foi velado no dia seguinte, na Câmara Municipal de Piraí, cidade onde morou desde 1970 e, na quarta, na Assembléia Legislativa, no Rio, para a despedida dos tantos colegas da classe artística, amigos e admiradores, antes do enterro no Cemitério do Caju, no Rio de janeiro.
Foi internada com uma grave infecção renal e nove dias depois morreu pela falência múltipla dos órgãos. Segundo a sua filha única, Martha, a mãe já havia separado a roupa com a qual gostaria de ser enterrada: coroa, maiô, meia, strass e muitas plumas, isto é, bem vestida de vedete. Não queria flores em seu caixão e ninguém chorando, e sim cantando o seu maior sucesso: "Sassaricando". Assim se despede a eterna vedete Virgínia Lane.
Com brilho, pompas e circunstâncias
Se o termo Vedete ainda não tivesse em uso no Brasil, a partir de Virgínia Lane, com certeza, ele se enriqueceria de significados para traduzir o que foi a Vedete do Brasil. Com brilho, pompas e circunstâncias, sua estrela brilhou ao lado de vedetes como Iris Bruzzi, Brigitte Blair e Dorinha Duval, entre tantas.
Sua vocação para brilhar ajudou o teatro, o cinema, o Carnaval, enfim, ajudou a desenhar a identidade nacional. Alegria, espontaneidade, irreverência, graça e beleza foram os atributos que disponibilizou para o enriquecimento de sua arte aprovada e muitas vezes delirantemente aplaudida por todos, todos mesmo, até pelo presidente da República, Getúlio Vargas, que lhe conferiu o título de Vedete do Brasil.
Participou de 30 filmes
Na identidade era Virgínia Giaccone, nascida em 28 de fevereiro de 1920. Desde os 15 anos já participava de programas de rádio e o seu talento logo a promoveu para a troup do Cassino da Urna, onde dançava e cantava à frente das grandes orquestras da época. O auge de sua carreira artística ocorreu na década de 50. Fez inequívoco sucesso também no Teatro de Revista e chegou a participar de 30 filmes, ao lado de grandes atores brasileiros, como Oscarito e Grande Otelo, entre outros.
Mas foi a sua gravação de "Sassaricando", de Luiz Antonio, que Virgínia Lane coroou o seu sucesso e colou, definitivamente, a sua marca no coração brasileiro. A ex-vedete recebeu a última homenagem em vida no dia 25 de janeiro deste ano, quando foi eleita a Imperatriz do Amazônia, em Belém, no Pará.
Uma carreira de sucessos
Momento especial: Este colunista com Virgínia, no Palácio Barão
de Guapy, em Barra Mansa, em 26 de novembro de 2006, quando foi
realizada a posse de três acadêmicos na ABL (Academia Barramansense
de Letras); este colunista, o saudoso Teodorico Mendes de Assis e
professor Adalberto, que a trouxe como sua madrinha
Na noite de segunda-feira, Martha lembrou a carreira da mãe, que recebeu a faixa de Vedete do Brasil das mãos do presidente Getúlio Vargas:
- A Virgínia Lane para o Brasil foi... Foi não, é. É muito alegre, brincalhona, carnavalesca, amor à vida. Enfim, eu vou guardar minha mãe como uma bonequinha que sempre gostou de se enfeitar.
Segundo Alex Palmeira (o maquiador das estrelas), amigo da família, Virgínia tinha planos para o Carnaval deste ano. Depois de completar 94 anos em 28 de fevereiro, ela participaria da festa da Cinelândia, no Rio de Janeiro, como era tradição. Ele também contou como foi um de seus últimos encontros com a ex-vedete:
- Eu falei: Virgínia, você brincou tanto Carnaval, eu não quero ver você nessa cama. Você não merece isso, essa cama não é sua vida. Então vá se encontrar com Emilinha Borba, Grande Otelo, que fez tanta felicidade na sua vida, suas marchinhas de Carnaval, tanta coisa boa. E então eu me emocionei vendo uma coisa e chamei a Marta. Era uma lágrima descendo do olho dela. Aquilo me marcou.
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A artista versátil e talentosa
Mulher guerreira, inteligentíssima, não levava desaforos para casa. Não era alta, os saltos dos seus sapatos, sim! Dona de um corpo escultural, versátil, participou de dezenas de filmes, seu primeiro foi o "Anjo do lodo", ousado para aquela época. Seu sucesso maior foram as marchinhas e os sambas por ela tão bem entoados.
Excelente filha, dona Ruth tinha muitos ciúmes da filha única e artista. Também Martha, filha de Virgínia, amava aquela mãe querida.
- Virgínia foi uma de minhas melhores amigas, a filha continuará o trabalho artístico da mãe - disse Adalberto Pires Branco Massano de Barros, professor, radialista, acadêmico e personalidade do meio educacional e cultural de Barra Mansa.
A amiga de muitos carinhos
Para Adalberto, Virgínia representou quase tudo em sua vida. Ele conta que viajaram juntos, estiveram no "Programa Raul Gil" e em boates paulistanas:
- Ela frequentava muito a minha casa aqui em Barra Mansa... Nós dois não viveríamos sem os Carnavais, principalmente os da Fase de Ouro do Rádio, época magistral e imorredoura. As suas gravações são sucessos até hoje. Virgínia admirava outras divas, tais como Carmen Costa, Dercy Gonçalves e a magnífica Carmen Miranda. Perdi uma grande amiga artista, porém, fica seu rico legado para nós e muitas lembranças e saudades eternas!