
(Foto Ilustrativa)
Já ouvi vários conselhos, como
fazer terapia para perder o medo
Na infância fui mordida severamente por mais de um cachorro. Foram duas situações tristes na verdade. Eram todos de dentro de casa. Compartilhavam a rotina da família, eram tratados com toda mordomia, menos as possíveis de hoje, e mesmo assim fui atacada. O meu medo se acentuou quando, na última, a dona dele não me socorreu. Viu-me às lágrimas, assustada, acuada num canto e falou que estava brincando e preferiu mimá-lo, pegar no colo e zangar levemente com ele, dizendo que aquilo não fazia com as visitas. Não me perguntou nem uma vez se estava tudo bem comigo, apenas mandou-me ir brincar com as outras crianças; mas era isso que eu estava fazendo desde que cheguei. Só me afastei para ir ao banheiro e neste caminho foi que nos encontramos. Mas ela não se importou e me disse que não ia prendê-lo e que eu ficasse lá no jardim com os outros. E só. Foi aí que meu medo virou trauma.
Comecei a evitar lugares que tinham cachorros. Se encontrasse com um na rua, na minha cabeça eu logo achava que ele iria me atacar e acabava por desviar o caminho e quase ser atropelada quando uma vez pulei da calçada para uma avenida movimentada ao deparar com dois Filas correndo em minha direção. Só que na verdade eles não vinham exatamente para me atacar, estavam correndo atrás do seu dono. Mas o susto "defensivo" foi coisa do meu medo.
Episódios bem de perto com eles
Já ouvi vários conselhos, como fazer terapia para perder o medo, conviver mais com cães. Já houve episódios bem de perto com eles. Já tive dois em casa, mas não fomos bem sucedidos em nossa relação doméstica. Eu mal me aproximava deles, o trauma sempre latia na frente, e não gostava de vê-los cativos e limitados à sua natureza. Resultado: eu os presenteei a amigos que os receberam numa boa.
Há pessoas que fazem confusão. Acham que não gosto de cães e gatos. Nada disso. O fato de não saber conviver e ainda alimentar este trauma não significa que não gosto. Gosto sim. Mas não em estilo "casa comigo". Tenho pavor de quem maltrata e fico com raiva mesmo de quem pratica atrocidades. É melhor não os adotar e os deixar bem longe de sua ira particular.
Uns entendem; outros, não
Há pessoas que entendem meu trauma, só depois que eu conto a história toda. Há pessoas que torcem o nariz quando digo que não crio cães ou gatos. - Deveria, pois você não tem filhos. - É o conselho que as vezes ouço sem pedir.
Admiro muito esta aproximação, às vezes um pouco exarcebada. Mas cada um supre seu afeto onde acha que deve. O que me preocupa às vezes é a priorização. Em redes sociais vejo tantas fotos de cães e gatos em estado lastimável com pessoas sensíveis se manifestando e solicitando ajuda. Uma amiga me disse: Por que não colocam foto de crianças também querendo um lar?
Minha opinião ainda não está adestrada
Penso que adotar um animal de estimação e ostentar esta relação é fácil. Eles não questionam, são obedientes, dependem de nossos comandos, e quem não gosta de ter o controle da situação, não é mesmo? Mas só penso e não externo, minha opinião ainda não está adestrada para isso.
Aproveito aqui o espaço e mando um beijo para o Leo, o gato do meu amigo Cláudio Alcântara. Outro beijo também para o Atila e a Annye, os cães da minha amiga Sandra Ribeiro. Um beijo pra Dalila, a Dálmata que assiste TV e é da família de outra amiga Tânia Nóbrega. São tantos amigos, que não dá pra listar aqui mas também não esqueci de nenhum que compreende o que sinto.