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Escapismo da Realidade

O fantástico mundo de Thompson

Nos sites e jornais, ele é apresentado como filho da catadora de lixo; adolescente devora livros (sobras do descuido) e passou em primeiro lugar no IFRN

Colunistas  –  04/03/2015 08:41

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(Foto: Reprodução)

Primeiro lugar no IFRN, Thompson Vitor, 15, e sua

mãe Rosângela, posam para álbum de família

 

Por ter nascido em um ambiente totalmente desfavorável às perspectivas de vida útil numa sociedade intensamente controversa de valores, ele poderia se chamar José, João ou qualquer outro nome bem brasileiro que a ficção nos acostumou a conceber dos padrões brasileiros.

Mas já no cartório foi registrado com um sobrenome de origem inglesa e seu significado: filho de Tom. Mais ou menos assim. 

Diante de uma condição paradoxal que sua identidade carrega, cresceu entre as dificuldades vencidas pela imensa vontade de seus pais que, mesmo desprovidos de recursos materiais e intelectuais, investiram em uma antiga fórmula de escapismo de realidade: o conhecimento.

Thompson viu que o limite das paredes de sua casa humilde revelava um perigo letal e multifacetado de fugas para sua sobrevivência. Mas preferiu centrar-se ali dentro, devorando livros que sua mãe pegava no lixo. Prefiro acreditar que não eram restos, mas, sim, sobras do descuido.

E assim, dia após dia, enquanto ele se isolava do mundo, se preparava para a vida. 

Nos sites e jornais, ele é apresentado como "filho da catadora de lixo". Uma pena. Afinal, quem vai querer pauta jornalística para uma camada invisível da sociedade que deu certo? De lá saem somente mortes de estatísticas, tráfico de drogas, acerto de contas etc.

Vai fazer falta um programa de TV, uma grande matéria, uma comoção em rede social, um documentário totalmente dedicado a ele em horário nobre. Ele é uma celebridade. É desse destaque que outras famílias precisam para seguir em frente para acreditar que a saída não está tão longe.

Ainda vou mais além, em meus idílicos desejos patrióticos acharia perfeitamente normal que a Rosângela, a origem mãe de todo este sucesso, gravasse depoimentos para incentivar outras mães a fazer o mesmo com seus filhos, no lugar da acomodação de entrega ao destino incerto. Uma badalação que daria certo. Por que não? 

Por enquanto, os holofotes do futuro estão festejando sua conquista, enquanto muitos de nós estamos na torcida para que mais histórias comecem a surtir efeito dentro de uma civilidade que nos é de direito.

Por Elisa Carvalho  –  elisacarvalho.br@gmail.com

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