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Ser Mulher

Feliz dia do que você é!

Respeito as articulações e movimentos feministas por igualdades; se estou com esta liberdade de expressão aqui é um sinal do progresso

Colunistas  –  07/03/2015 17:49

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(Foto Ilustrativa)

Já avançamos muito, mas temo que este

barulho, no fim das contas, seja por nada

 

"Tá ficando cada vez mais espantoso atender os requisitos de ser mulher, nos dias de hoje". – A frase que ouvi informalmente de uma pesquisadora remanescente de Betty Friedan - a mãe do ativismo feminista; me colocou em dia com os constantes padrões que se multiplicam diariamente numa velocidade impressionante para explicar o papel da mulher que se posiciona na sociedade (?). 

Em uma teoria conspiratória machista, vou tomar emprestado o pensamento de alguns: O corpão sarado de muitas se destacam nas páginas de jornais e sites ao lado de uma notícia de violência banal. Quem vai se preocupar com o disparo da inflação sendo que ao lado desta matéria estampa a bunda falida de Andressa Urach exposta diante do tribunal inquisidor virtual das boas maneiras? O ibope é dela. 

As páginas inteiras dedicadas à trajetória das mulheres que investem na academia, no silicone, na alimentação saudável e nos subholofotes temporários são mais interessantes do que uma notinha falando da luta de uma mãe que catava livro no lixo para que seu filho pudesse chegar onde chegou: no topo da cadeia que não se alimenta de futilidades mas sim da realidade exaustiva que grita em nossas carências. 

Outro dia uma amiga me disse que sua manicure de 29 anos estava deprimida e em quase desespero, porque economizou durante três anos e abriu mão de certos prazeres (o de ir numa casa de shows por exemplo) para colocar o tão sonhado silicone. Quando a quantia estava quase completa, veio a notícia de que sua filha de 13 anos estava grávida. Como ela não sabia quem era seu genro, resolveu apoiar a filha a fazer um aborto. Sairia mais barato do que cuidar sem ter a certeza do futuro e ainda ia sobrar na poupança, ou seja, pelos cálculos ela teria mais um ano para comer arroz, feijão e ovo e finalmente poder realizar seu sonho: sambar siliconada no pagode. E a filha que tomasse sozinha suas precauções.

Assim como eu, minha amiga não quis saber o resto da história, como forma de preservação de cotas da nossa revolta particular. 

Aquela estudante universitária que foi vitimizada por ataques machistas e o Brasil todo protestou contra achou que seria mais rentável ir de carona no sucesso comovente e hoje vive seminua na vitrine da mídia, escrevendo barbarismos em rede social. Ela desistiu de estudar. Mas tá com carreira certa enquanto estiver exibindo o corpo impecável. Um direito dela. 

Respeito as articulações e movimentos feministas por igualdades, se estou com esta liberdade de expressão aqui é um sinal do progresso que em um episódio de tempo remoto jamais conseguiria. Já avançamos muito. Mas temo que este barulho, no fim das contas, seja por nada.

Infelizmente, como ironizou Millor Fernandes um dia: "O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris". E quem é Rachel de Queiroz mesmo? 

Feliz dia do que você é!

Por Elisa Carvalho  –  elisacarvalho.br@gmail.com

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