(Fotos: Divulgação)
Publicada em: 18/06/2015 (12:46:59)
Atualizada em: 14/07/2015 (14:25:11)
Hoje pela manhã, 8 de junho, tivemos a honra e a grande satisfação de conhecer uma pessoa otimista, determinada e com a arte nas veias pulsando constantemente. A convite do amigo escritor e doutor em letras, professor Juliano Carrupt do Nascimento, estivemos na Escola Estadual Minas Gerais, no bairro Retiro, em Volta Redonda, para assistirmos à palestra da amiga poeta/professora Adriana Kairos aos alunos e professores daquele educandário no qual leciona.
Adriana dos Santos Silva (orgulha-se de ser uma Silva...) nasceu, cresceu, viveu e vive no conhecido Complexo da Maré no Rio de Janeiro. Filha de nordestinos retirantes, pobre, favelada, cercada por muitos problemas que habitualmente fazem parte da maioria dos brasileiros de baixa renda: fome, miséria, medo, preocupação, falta de oportunidades, preconceito, indiferenças das mais diversas possíveis, vividas em um lugar povoado por pessoas de bem, traficantes, policiais e sabe Deus quem mais!? Lugar esse que, para se viver, agora em estado de sitio, é preciso ser artista todos os dias...
Conhecida popularmente e artisticamente pelo codinome de Adriana Kairos - em contraposição a Cronos, apenas um tempo determinado, está Kairós, energia acumulada pelas experiências vividas -, passou sua infância e adolescência sofrendo adversidades inerentes nessa vida cheia de obstáculos. Por não ter acesso a brinquedos e lugares para brincar, criou no pequeno espaço de sua casa o seu mundo imaginário, viajou pelo universo dos livros, construiu seu Reino de Fantasias e sonhos, já que não podia se divertir sempre pelos quintais, lajes e ruas de sua comunidade, devido a constate violência ali instalada.
Para comprar os seus materiais escolares e de seus irmãos, seu pai vendia picolés na porta da universidade, lugar vizinho a sua casa, porém tinha-a com certa distância até por causa da realidade que vivenciada.
Começou a trabalhar cedo, sendo caixa de estabelecimentos comerciais durante anos, foi mãe aos 17 anos. Depois de 15 anos sem estudar e passando por problemas difíceis de serem solucionados, por intermédio de uma amiga, volta a estudar com garra e determinação, presta vestibular em várias instituições. Aos 30 anos entra para a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), sua vizinha que parecia tão distante...
Ali graduou-se em português/espanhol, superando com ousadia todos os empecilhos que apareciam em seu caminho para que desistisse de concluir seu curso superior.
Depois de formada viu que podia mais em favor das pessoas que a rodeiam em seu habitat de origem, criou e desenvolveu projetos e ideias, fazendo da arte literária sua principal ferramenta de inclusão e transformação para que sua gente possa se encontrar, pensar melhor e evoluir em todos os aspectos como cidadãos capazes de fazerem a diferença.
Hoje, aos 39 anos, é uma cidadã guerreira que conquistou seu espaço, casada, mãe de dois filhos, professora, poeta reconhecida e reverenciada em diferentes meios - já com vários livros -, antologista, editora, palestrante que com suas experiências de vida consegue mostrar para as pessoas, principalmente aos jovens, que só vencemos e transformamos qualquer questão por meio do estudo, da educação e da arte.
Com esse exemplo da Adriana, faço duas comparações: a primeira que aqui em nossa cidade, principalmente nos morros íngremes, onde está grande parte dos bairros periféricos, não estamos muito distantes lá da sua conhecida comunidade, sofremos com as mesmas questões que infelizmente imperam.
A segunda comparação é sua história de vida e superação. Fez lembrar-me da história da saudosa escritora mineira Maria Carolina de Jesus (1914-1977), pobre, negra e favelada. Vivendo à mercê da sociedade em um lugarejo de São Paulo, foi descoberta por meio de uma matéria feita pelo jornalista Audálio Dantas (1929) em 1958 e lançada no mercado editorial em 1960 com o livro "Quarto de despejo" - sua história de vida -, que obteve grande sucesso de público e crítica. Embora escrito na linguagem simples, em função de sua pouca escolaridade, seu diário foi traduzido para 13 idiomas e tornou-se um best-seller na América do Norte e na Europa.
Ambas as histórias demonstram a todos nós que não é o lugar e nem as condições que condizem e fazem as mudanças e transformações, e sim nós mesmos quando queremos, pois todos são capazes de alcançar seus objetivos e realizarem seus sonhos, claro que com muita fé e determinação!
> Agradecimentos: A Maria Aparecida de Oliveira Rocha (diretora). A senhora é muito corajosa e generosa por ter recebido a amiga escritora e professora, na escola. Salve também o professor José Maria, que atencioso, adequou a fala da artista aos projetos do colégio.
Eu conto carneirinhos
Gosto de sonhar. Penso que os sonhos são passeios da alma. Sabe, quando queremos espairecer.
Sair por aí. Distrair.
Só que os sonhos fazem viagens bem mais empolgantes. Viajam pelas lembranças, exploram o desconhecido, visitam até o que tememos e nos assustam com terríveis pesadelos. Mas são só pesadelos.
Revemos amigos, outros bem mais queridos e encontramos até gente nova. Sim!!! Acredito nisso. Sabe quando vemos alguém pela primeira vez e dizemos: "Eu não te conheço de algum lugar?". Sei lá, mas eu acho que é lá das voltinhas dos sonhos, que já nos vimos antes.
Por isso é que gosto quando a noite chega. E espero ansiosa a hora de dormir, só pra saber a surpresa que terei. Que passeio farei, embalada em canções antigas de ninar. Quem sabe hajam caminhos de jujubas e rios de refrigerantes, laguinhos de chocolate com patinhos de bombom. Sei lá... As vezes a grande viagem é refugiar-se apenas no inimaginável.
Não sou mística ou qualquer outra coisa. Nem gosto de religião. Só quero compartilhar os meus humildes pensamentos. E convidar a sua alma a pôr o pé na estrada te lembrando o quanto é bom sonhar.
*Professora de português, espanhol, literatura e redação formada pela UFRJ. Atua em importantes cursos preparatórios da cidade do Rio lecionando essas disciplinas. Também ministra aulas de reforço escolar, em domicílio, a alunos dos ensinos fundamental e médio, desenvolve e realiza projetos literários em educandários e comunidades.
_______________________________________________________
Comunidade da Maré (para Adriana Kairos)
Jean Carlos Gomes
Lugar das desigualdades, do medo,
De passagens estreitas,
Com constantes embates...
Asfalto quente, correria,
Fuga e ação,
Muitas das vezes o sangue inocente pinga, respinga...
Gente que apesar da simplicidade,
Reivindica, protesta, questiona...
Com ecos de bravura e determinação:
A poeta promove, consegue fazer a diferença
E por meio das letras e palavras faz acontecer
A mudança necessária...!!!