Publicidade

RH

Nó na Garganta

Uma surpresa dessas que não estão no script

Uma verdadeira novela, melhor do que "Salve Jorge", para descobrir se eu e minha tireoide seremos felizes para sempre uma com a outra

Colunistas  –  17/11/2012 16:19

432

(Foto Ilustrativa)

A ideia inicial era a de escrever sobre a mega exposição dos impressionistas, que transformou o CCBB, na Praça XV, num museu parisiense com direito a venda de souvenirs e croissants dentro das suas instalações. Para ser muito sincera, não vejo a hora de ir lá. Mas não para ver as obras. E sim para cair de boca num pain au chocolat. Eu, assim como Maria Antonieta, tenho um fraco por pães. Já os quadros, esses serão um “plus a mais”, como diria meu antigo chefe, hilário e criativo.

Porém, merendas à parte para descontrair o clima, a mudança radical no tema do meu texto se deu por conta de uma surpresa dessas que não estão no script: um nódulo na tireoide, que se transformou num verdadeiro nó na garganta. Perdi a fala, mas não a escrita. Meno male!

Um total acaso

Em 2004, quando, por um total acaso, ao tocar o meu pescoço, percebi uma certa protuberância e corri logo para o médico já desesperada, achando que eram gânglios. Sim, sou uma cagona assumida com doenças, graças ao meu histórico familiar supersaudável. Mãe, que morreu por causa de um câncer no seio, e pai diabético, que sofreu AVC e faleceu em decorrência dos dois.

Pois, então, descobri que eu tinha um nódulo, do bem, e passei a tratá-lo e cuidá-lo com todo o carinho e respeito ao longo dos anos. E aí, religiosamente e anualmente, faço os exames de sangue a ultra com direito a Doppler. E colorido. Tudo para ver como o nódulo está. Tipo um filho. E vou à minha consulta de fim de ano na endocrinologista para saber se passei de ano ou fiquei de recuperação.

Só quem, em 2012, foi tudo diferente. Primeiro, porque marquei minha visita à médica em outubro. Eu sempre faço-a em novembro, já beirando dezembro. Estou parecendo até botafoguense, toda “trabalhada na superstição”. Começou tudo bem na consulta. Detalhe que ela só tinha atrasado uns 15 minutos para me atender. Outra zebra.

Um silêncio ensurdecedor

Sentei lá na frente dela, sempre um pouco tensa. Como se estivesse esperando o resultado de um teste final, o da prova da vida. Até elogiei a pulseira que ela estava usando, Shamballa, para dar uma descontraída no clima. No primeiro exame, o de sangue, eu passei com louvor. Ufa! E aí veio a famigerada ultra, cheia de fotos. E ela ficou lá parada, olhando e consultando as antigas anotações na tela do computador. Um silêncio ensurdecedor na sala não tão pequena. E eu fazendo cara de paisagem, como se nada estivesse acontecendo comigo. Até que vieram aquelas palavras pontiagudas.“Pois é, agora vamos ter que olhá-lo de uma maneira diferente”.

E eu ainda pensei com meus botões. OK, passarei a fazer o chato do exame duas vezes por ano. Não! Ledo engano. “Como ele, o nódulo, cresceu e já faz muito tempo que não o avaliamos com mais afinco. E blablablá”. Conclusão: terei que fazer uma punção, ou seja, meter uma agulha no meu gogó para ver o tipo de nódulo que carrego e ver se ele é amigo ou não. E se poderá continuar morando comigo, na minha goela, até a eternidade, como na música do Cazuza. E, caso não, terei que entrar na faca para extirpá-lo.

Quero continuar com a minha tireoide

Tem gente que perde a tireoide todinha. Tem gente que perde o seio. Tem gente que perde a perna. Tem gente que perde tudo na vida. Contudo, eu, Thereza, não quero perder. E quero continuar com a minha tireoide. Eu e ela nos entendemos e nos damos muito bem. E tem um agravante. Eu odeio tomar remédio. Tremo e temo só de pensar em ter que tomar algo pelo resto dos meus dias.

Agora, que eu sou fashion e pop, ninguém pode negar. Nos dias atuais, todo mundo tem um problema na tireoide para chamar de seu e contar.

A saga, depois da constatação do crescimento do nódulo, foi para marcar os benditos exames. Meu cartão do plano de saúde, master dos masters, não era aceito na clínica indicada pela doutora no Leblon. E aí corri atrás de outro lugar para fazer. Só que aí a data foi adiada. Paciência! Faz parte do pacote terror e pânico.

Misto de expectativa e medo

Ou seja, agora estou passando por aquele período da longa espera, num misto de expectativa e medo. E ainda terão os dias até sair o resultado da biópsia. Palavrinha que mais parece sinônimo de coisa ruim. Uma verdadeira novela, melhor do que “Salve Jorge”, para eu descobrir se eu e minha tireoide seremos felizes para sempre uma com a outra. 

E aí, para comemorar o veredicto, irei à exposição sobre o Impressionismo para ter minhas impressões sobre as pinceladas errantes e cheias de cores das telas de Monet, Manet e Renoir. E terei assunto para meus futuros textos e para as rodas sociais. E, acima de tudo, vou saborear meu croissant de chocolate com um cappuccino, que me levarão de volta a Paris e me farão esquecer de todo esse enfadonho episódio de “A vida como ela é”.

Por Thereza Monteleone  –  thereza.monteleone@facebook.com

Seja o primeiro a comentar

×

×

×