(Foto: Divulgação)
Clara: Personagem de Sônia Braga no filme
"Aquarius", que convive entre um marcante passado
e uma real, e cruel especulação imobiliária
Tudo estava no mesmo lugar que sempre esteve. Os discos de vinil da velha vitrola. A velha vitrola sobre um empoeirado móvel. O empoeirado mobiliário, hoje retrô, encostado no canto da sala.
Os livros, enfileirados, colecionam dedicatórias e páginas amareladas.
Os álbuns de fotografias amontoados na instante, guardados feito troféus, denunciam a idade. Numa época em que as fotografias tinham data e mania de poucos sorrisos.
Tudo parecia exatamente igual.
Exceto pelo tempo que não se conservou.
Exceto pela vida que passou.
E que deu lugar aos contrastes.
O novo e o velho se misturam com as antigas lembranças, e uma realidade cada vez mais presente.
Não há mais tempo para ouvir um disco inteiro, as leituras vão ficando pela metade e as fotos são quase que, intermináveis.
Talvez esteja sobrando histórias e falte alguém para contá-las.
Talvez haja muitos protagonistas para poucos espectadores.
Hoje a vitrola ocupa espaço demais e os álbuns de músicas parecem ficar melhores dentro de um streaming. O verbo baixar nunca foi tão conjugado e aquela canção top songs virou greatest hits.
Os livros, que estão acumulando poeira, cabem dentro de um e-book.
Até aprendemos a sorrir para as fotos, além de posar para nós mesmos, em fotografias que foram reduzidas a fotos, e acessadas num touch.
Pode parecer que muita coisa mudou.
Sim. Mas nem tudo.
E não são os vinis arranhados ou as pessoas, irreconhecíveis, nos retratos.
O que permanece intocável...
O que nunca vai mudar, verdadeiramente, é a vontade de rememorar uma boa história.
Abraços meus, até a próxima.