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Ruan Campos

ruan.campos@hotmail.com

Linguagem Fotográfica

Evandro Teixeira: fotojornalismo e memória nacional

Firmando-se como um dos maiores fotojornalistas brasileiros, capta a diversidade do Brasil, passando por coberturas memoráveis, ajudando a construir através de imagens realizadas em diferentes regiões e estados parte do imaginário coletivo

Colunistas  –  11/03/2017 08:42

Publicada: 07/02/2017 (12:04:21) . Atualizada: 11/03/2017 (08:42:55)
  • Evandro Teixeira (Foto: Heiner Pflug)

(Fotos: Divulgação)

São 82 anos completados em janeiro, cinquenta deles atuando como repórter fotográfico

Quando o assunto é fotojornalismo o nome de Evandro Teixeira encabeça a lista de fotógrafos brasileiros que tiveram suas fotografias ligadas a grandes fatos no campo da política, do esporte e eventos do cotidiano, que juntos somam meio século dedicado à linguagem fotográfica, em coberturas dentro e fora do país.

Natural da cidade de Irajuba, na Bahia, Evandro Teixeira começou a atuar como fotojornalista em 1958, no extinto jornal impresso “Diário da Noite”, um dos principais jornais do Rio de Janeiro na década de 50. Já trabalhando como repórter fotográfico, logo mudou de veículo, entrando para o “Jornal do Brasil” (JB), passando então a registrar por meio de fotos jornalísticas diversos acontecimentos importantes que ajudam a contar um pouco da história brasileira a partir dos anos 60.

Formado em belas artes, suas fotos logo ganharam destaque em matérias e publicações de diferentes veículos, passando de grandes registros fotográficos para imagens simbólicas, que até hoje cercam a memória do público e ilustram acontecimentos de grande repercussão no Brasil, como a repressão ao movimento estudantil que explodia nas ruas durante a ditadura militar, assim como a queda do governo de Salvador Allende em 73, no Chile.

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Apaixonado por fotografia, Evandro Teixeira uniu a empatia pelo ato de fotografar com a sagacidade de estar no lugar certo na hora exata, princípio básico para um bom repórter fotográfico. O fator “sorte” nem sempre garante um bom registro. O “feeling” jornalístico também interfere na hora do click.

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Fazendo uma espécie de linha do tempo na produção fotográfica de Evandro, começo falando sobre a fotografia “A queda da moto”, feita durante a ditadura militar, na qual retrata um policial no momento em que caía de sua moto, defendida por muitos como “imagem símbolo” da fragilidade do regime instaurado no Brasil em abril de 1964. Uma das primeiras fotos que abre uma galeria de infinitos momentos extraordinários fotografados por Teixeira.

Outra prova da qualidade notável dos trabalhos de Evandro pode ser enxergada no registro realizado na Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968, no Rio de Janeiro. Na imagem, é possível ver uma multidão em meio a uma faixa com os seguintes dizeres “Abaixo a ditadura, O povo no poder”. Na ocasião, a fotografia foi censurada por agentes do regime infiltrados na redação do “Jornal do Brasil”. Durante toda a passeata, Evandro Teixeira conseguiu fotos importantes que revelam a participação de figuras públicas e intelectuais ligados ao teatro e à MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e o saudoso ator Paulo Autran.

Entre dezenas de negativos sobre a Passeata dos Cem Mil, Evandro Teixeira é muito conhecido e aclamado pela fotografia de libélulas pousadas sobre baionetas de soldados do governo brasileiro, clicada durante um evento cívico, que contou com a presença do general Costa e Silva.

Outra fotografia de Teixeira que entrou para história da MPB tem Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, feita durante o aniversário de Vinícius. Deitados em uma mesa, o fotógrafo realiza de uma só vez um registro inusitado de três grandes ícones da música popular brasileira. Essa é uma das melhores fotos de Evandro Teixeira, realizada em 1979 e utilizada em diversos livros e publicações, sendo também exposta em mostras fotográficas em alguns museus do Brasil.

Além da turma da MPB, Evandro Teixeira também fotografou atletas, políticos, musas e poetas brasileiros. As câmeras do fotógrafo captaram Ayrton Senna, Lula, Helô Pinheiro, Leila Diniz e Carlos Drummond de Andrade.

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As fotos de Evandro Teixeira percorreram e ainda percorrem décadas ilustrando assuntos variados na esfera nacional e internacional; desde a ditadura militar até a visita da princesa Diana no Brasil; recebendo prêmios nobres como o da Unesco e da Sociedade Interamericana de Imprensa.

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Enfrentando momentos conturbados, em períodos sombrios para a democracia no Brasil anos atrás, as lentes do fotojornalista Evandro Teixeira nos proporciona viajar e refletir sobre acontecimentos históricos e agitados vividos no Brasil nas últimas quatro décadas. Sem a menor sombra de dúvida, suas fotos repercutem e se mostram vivas na memória afetiva dos brasileiros até os dias de hoje. O valor, o prestígio e a excepcionalidade de Evandro Teixeira como fotojornalista confirmam a importância documental de seus trabalhos para elucidar parte do cenário político construído no país.

Ao longo de sua extensa carreira, Evandro, com 82 anos completados em janeiro deste ano, cinquenta deles atuando como repórter fotográfico, já editou e publicou livros (quase todos difíceis de serem encontrados), participou de exposições coletivas e individuais, conquistou dezenas de prêmios como: Federação Carioca de Futebol (1986), Concurso Internacional da Nikon (1991), Prêmio Comunique-se, na categoria Repórter de Imagem (2005), além do Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro (2010).

As homenagens e o reconhecimento dos feitos de Evandro no campo da imagem culminaram no documentário “Evandro Teixeira - Instantâneos da realidade”, lançado em 2003, com direção de Paulo Fontenelle. No documentário, participam com depoimentos sobre o trabalho do fotojornalista pessoas relevantes como o fotógrafo Sebastião Salgado, o jornalista Marcos Sá Corrêa e o músico Chico Buarque.

Que todos os fotojornalistas nunca abaixem as máquinas, pois os fatos estão à solta diante das lentes que registram e levam de forma precisa e imediata, informação ao nosso cotidiano. Para conhecer um pouco da profissão de fotojornalista, indico dois documentários que mostram na prática os grandes desafios que os repórteres encaram para obter fotografias com elementos jornalísticos. São eles: “Abaixando a máquina” (2008) e “Abaixando a máquina 2” (2016).

Para quem prefere a leitura de uma boa biografia, a jornalista Silvana Costa Moreira é autora do livro “Evandro Teixeira - Um certo olhar”, que detalha e pontua a trajetória profissional e pessoal de um dos principais fotojornalistas do Brasil. Página a página, o livro vai revelando situações inusitadas por trás de cada fotografia... Vale a pena conferir!

Por Ruan Campos  –  ruan.campos@hotmail.com

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