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Literatura & Cia.

Jean Carlos Gomes

poearteditora@gmail.com

De Projeção Nacional e Internacional

Entrevista com a escritora Astrid Cabral

Homenageada no livro - Vozes de aço: Volume XVIII - em 2016 fala sobre mídias digitais, literatura e muito mais

Colunistas  –  06/12/2017 20:27

  • A poeta com alguns de seus livros

  • O jovem casal de poetas Astrid e Afonso com olhares felizes e atentos nos anos 50

  • Momento inesquecível e grandioso na sala de jantar com a grande mestra Astrid Cabral; Vicente, Jean, Antônio e Oliani

  • Astrid e Afonso em viagem a Portugal em 1999

  • Integrantes da comissão de homenagem com a notável escritora: Vicente Melo, Antônio Pena, Astrid, este colunista, Ernani Mazza e Luiz Otávio Oliani do RJ

  • Este colunista com a notável poeta Astrid Cabral no lançamento do livro

  • Vicente, Astrid (com a capa do livro em sua homenagem) e este colunista, editor da obra

  • Astrid declamando com serenidade um dos seus poemas

(Fotos: Arquivo Pessoal/PoeArt Editora) 

Neste domingo, 10, completa um ano que estivemos com a grande mestra da poesia brasileira, a escritora Astrid Cabral, para entregarmos a ela o livro “Vozes de aço - XVIII antologia poética de diversos autores 2016”, que traz uma homenagem pela passagem dos seus 80 anos. Nosso primeiro Encontro Literário foi realizado em 3 de setembro de 2016, no seu apartamento no Rio de Janeiro, para colhermos os dados para a homenagem, aceita e autorizada por ela. Foram momentos de alegria e conhecimentos sobre a vida e a obra dessa magnífica autora brasileira de projeção nacional e internacional, que foi casada por mais de 40 anos com o grande poeta Afonso Félix de Sousa (1925-2002). Abaixo a entrevista: 

Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário se desenha para a literatura brasileira?

Podemos antever grande ampliação de cenário, não só para a literatura, mas para as demais artes. Gostaria que essa ampliação cultural ocorresse antes de tudo no campo educacional. Na realidade, queremos que a quantidade seja acompanhada de qualidade. Se examinarmos o baixo nível das escolas e também de certas publicações e programas de TV, logo ficamos apreensivos quanto aos resultados. Sem instrução, a falta de autocrítica pode liberar uma avalanche de criação desenfreada, desprovida de apuro para o enriquecimento. 

A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade? 

Não, a rigor. Quem escreve poesia sabe, desde o começo, que sua produção é uma atividade solitária, por pouco o poeta não é um eremita. A necessidade de expressar-se é mais impositiva do que a de comunicar-se. Para os jornalistas deve ser muito frustrante não ter público, mas para os poetas, mais do que as matérias comentadas a serem veiculadas, importam as emoções, as particularidades formais e o peso da subjetividade que servem de alicerce. Esses procuram uma dicção única, singular e não a linguagem objetiva e banal. 

O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona?

Para mim o ápice da satisfação com o ofício vem em função de atingir o coração dos leitores, tocando-lhes a alma, dizendo algo que eles obscuramente sentem, sem lograr definir em palavras. Certa vez, numa feira de artesanato em Brasília, uma amiga encontrou um poema de minha autoria, bordado a mão no peito de uma camisa. Trata-se do poema “Amor no píer”, em que comento alegoricamente uma relação amorosa que ficou suspensa por indecisão e medo. Para mim foi a glória! 

Qual é a função da literatura na sociedade? 

A função da literatura na sociedade é revolucionar a mente dos cidadãos, ajudando-os a ver melhor. Torná-los mais conscientes e responsáveis, sacudindo-os de seus hábitos de pensamento esclerosado. Apresentar situações e conflitos que exigem posicionamento, reflexão e autocrítica. Outra função primordial da literatura é o cultivo da língua escrita, que se alça bem acima da língua oral utilizada negligentemente, bem como estabelecer um padrão de excelência a vigorar em todo o território nacional. 

Cardápio* 

Nosso cardápio diário
inclui carnes assadas
e angústias bem passadas.
Inclui sangrentos nacos
cobertos de molhos pardos
que sabem a desgosto.
Inclui mil hipocrisias
devidamente empanadas
e servidas à francesa
bem antes da sobremesa
de frutas esquartejadas.
Inclui entre as iguarias
amizades congeladas
sonhos em banho-maria
deleites de amor requentado
em rançosos azeites.
Ódios com pó de pimenta
e as tremulas gelatinas
de dúvidas coloridas.
Inclui o tédio guarnecido
de exóticos temperos.
Inclui o medo camuflado
em camadas de batatas.
Inclui a morte servida
sem o menor escrúpulo. 

Astrid Cabral, Lição de Alice* (1986)

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Por Jean Carlos Gomes  –  poearteditora@gmail.com

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