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Comunicação

Rafael Moura e a arte de democratizar a informação

Locutor fala sobre a voz que precisa fazer enxergar e outras particularidades do ramo

Colunistas  –  03/02/2018 09:24

Publicada: 30/01/2018 (10:17:48) . Atualizada: 03/02/2018 (09:24:21)

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(Fotos: Divulgação)

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“O diferencial da locução é justamente a característica humanizada da voz, coisa que nenhum robô será capaz de sintetizar algum dia”

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Presente nas vidas das pessoas diariamente, o rádio, que revolucionou a comunicação à distância e foi criado em 1896 pelo físico Guglielmo Marconi, segue sendo posto em xeque, desta vez, pela globalização da comunicação online ou democratização da informação. O objetivo inicial da invenção, que era substituir o telégrafo (aparelho dependente de cabos), foi alvo de muitas polêmicas ao longo dos séculos. Uma das mais notáveis diz respeito à sua paternidade: Marconi se utilizava de 20 equipamentos patenteados por Nicholas Tesla e, por isso, teve a autoria de sua suposta invenção questionada na Corte Americana durante a década de 40. A história também não joga louros para o padre brasileiro Landell de Mora, que teria feito suas primeiras transmissões em 1893, três anos antes de Marconi. O fato é que junto com a revolução das rádios a sociedade viu nascer os locutores, que durante muitos anos eram vistos como uma celebridade por suas vozes “onipresentes” e “oniscientes”, e que apesar de todas as transformações resistem com seu glamour. Nesta coluna, vamos falar com o locutor dos programas “Horário Black Jack” e “Clube 96”, da Radio Nova Sul Fluminense (96, 1 e 1390), Rafael Moura, que atua no mercado há 20 anos e ama o que faz.

Confira a entrevista com Rafael Moura

1. Como você define a profissão de locutor de rádio?

Acho que o grande barato dessa profissão é justamente não ter uma definição. Cada dia me deparo com diversos tipos de locução e penso: não há um padrão para isso, existem centenas de formatos possíveis, desde uma locução informal, falando como se estivesse em uma conversa de amigos, passando pelos tons aveludados de voz de propaganda de automóvel, até aquela locução explosiva de promoções imbatíveis da loja de departamento. O mais importante nisso tudo é transmitir veracidade na voz.

2. Como você se tornou um locutor?

Eu sempre quis trabalhar no meio radiofônico. Desde o meu primeiro gravador de voz, que ganhei da minha tia Marli (recém-falecida) há coisa de quase 30 anos, eu já dava meus primeiros passos, gravando vinhetas e simulando programações de rádio. Lembro-me de desacelerar/acelerar a fita cassete para fazer voz corrida (ou robótica) simulando novelinhas. Então, há 20 anos entrei definitivamente para o ramo, mais precisamente no dia 29 de março de 1998, e não saí mais.

3. O que você gosta mais e o que você gosta menos na profissão?

O que mais gosto é da possibilidade de criar, sem barreiras, sempre buscando mexer com o imaginário do ouvinte que “tudo ouve e nada vê”. A gente tem que buscar transmitir a mensagem através do som, fazendo com que o ouvinte “enxergue” o que está ouvindo. Eu não gosto da forma mesquinha que muitos empresários do ramo lidam com os profissionais, desrespeitando direitos e explorando a mão de obra.

4. E sobre o assédio? Locutor de rádio é muito assediado?

Acho que isso acontecia muito sim, mais antigamente. Hoje o assédio é bem menor, mas ainda acontece. Acho que é porque as redes sociais proporcionam visibilidade a qualquer pessoa (com foto e ficha completa), e aí todo mundo vira vitrine. Em outros tempos, os locutores eram quase que exclusivos nessa vitrine. Mas ainda tem muita gente que carece de uma palavra amiga e vê no locutor uma porta para essa amizade ou até algo a mais. O problema é quando esse carinho extrapola e se torna uma obsessão. Aí acaba complicando. Eu mesmo já passei por algumas situações.

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“Hoje em dia qualquer um pode alugar um serviço de streaming e montar a sua própria rádio na internet; resta saber se o indivíduo terá disposição suficiente para encarar as nuances do mercado”

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5. Qual é o caminho pra quem sonha com a locução?

Primeiro é ouvir bastante. Ouça profissionais de ponta para tê-los como referência. Um bom arquiteto está sempre de olho nas melhores revistas especializadas para saber o que os profissionais top da área estão produzindo. Na profissão de locução não é diferente. Depois, procure algum curso especializado. Existem muitos bons cursos no Vale do Paraíba Paulista e na capital carioca.

6. Como está o mercado de locutor na era da tecnologia?

A locução é muito ampla, pois essa profissão está não só no rádio como também na TV, no cinema e na própria publicidade. Em qualquer um desses setores nós percebemos que a tecnologia tem avançado bastante, facilitando o nosso dia-a-dia. Antigamente, se produzia comercial em uma fita, eu levava cerca de vinte a trinta minutos por spot; hoje em dia, eu não levo mais do que cinco minutos e consigo um resultado muito melhor. Algumas pessoas dizem que a tecnologia tende a substituir a figura humana do locutor. Eu não acho isso. O diferencial da locução é justamente a característica humanizada da voz, coisa que nenhum robô será capaz de sintetizar algum dia.

7. E o rádio em si, você vislumbra alguma transformação de curto e médio prazo no papel do rádio, considerando o cenário atual?

Na verdade, essa transformação acontece desde sempre. O rádio foi inventado para fins de comunicação e se tornou veículo de entretenimento: vieram a música, as radionovelas, os programas de auditório... Nos anos 50, chega a TV absorvendo esses produtos do rádio, que naquela época já tiveram que ser reinventados. Isso aconteceu novamente nos anos 70, com o surgimento do FM e, agora, mais recentemente, com a popularização da internet. Eu vejo a transformação atual de forma muito positiva, já que o meio está, enfim, se democratizando. Hoje em dia qualquer um pode alugar um serviço de streaming e montar a sua própria rádio na internet. Resta saber se o indivíduo terá disposição suficiente para encarar as nuances do mercado. Hoje em dia, tem muita estação disputando a preferência do ouvinte - só vai ficar quem realmente for bom.

> Estúdio Sattnin Texts and Idioms

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Por Sabrina Sattnin  –  sattnintxi@gmail.com

1 Comentário

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  • Cleiton silva

    Parabéns Rafael Moura belas foram suas palavras? sobre este assunto tão interessante é importante em nossas vidas,porque eu também amo Rádio já trabalhei em emissora de Rádio,hoje sou locutor publicitário tenho meu próprio estudio. Adoro essa vida.tmj