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Literatura & Cia.

Jean Carlos Gomes

poearteditora@gmail.com

Premiada Carreira

Denise Emmer lança o seu 18º livro

Em - Discurso para desertos -, autora passeia por temas desconcertantes como finitude, medo, violência e brinda o leitor com poemas repletos de memórias, revelações e questionamentos

Colunistas  –  14/04/2018 16:42

  • Com o filho Arthur e seu marido, o pneumologista Germano Gerhardt

  • Com a juíza Denise Frossard

  • Com o poeta Luiz Otávio Oliani

  • O poeta Carlos Nejar (que fez a apresentação do livro) com a poeta Alexandra Vieira de Almeida

  • Com o poeta Alexei Bueno

  • Com o violoncelista Hudson Lima

  • Com a poeta Alexandra Vieira de Almeida

  • Com o editor e poeta Raimundo Gadelha

  • Com os irmãos, o baterista Alfredo Dias Gomes e o trompetista Guilherme Emmer Dias Gomes

  • O ator Sergio Fonta, lendo os poemas de Denise Emmer

(Fotos: Divulgação)

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"Como poeta, escrevo sobre o que vivo, o que vejo, o que me comove, o que me entristece e me espanta". 

(Denise Emmer)

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Uma viagem a um novo país de ideias e palavras. É com esse olhar que a premiada autora Denise Emmer caminha de encontro à poesia a cada vez que mergulha na elaboração de um novo livro. Os versos brotam naturalmente a partir de uma entrega total a um percurso que a transporta a mundos nunca visitados para (re)descobrir sensações, lembranças, decepções, afetos e paixões. E o resultado dessa nova jornada, que teve início em meados de 2016, quando começou a colocar no papel seus primeiros pensamentos, é o livro “Discurso para desertos”, que foi lançado no Rio de Janeiro, em dia 21 de março, na Casa da Leitura da Biblioteca Nacional, em Laranjeiras; em São Paulo, no dia 25 de abril, na Livraria Martins Fontes e, dia 26, na Quinta Poética da Casa das Rosas.

O 18º livro de Denise Emmer é uma obra densa e contundente na qual a poeta passeia ora com leveza e nostalgia ora com medo e assombro por temas como finitude, perdas e violência. É a autora quem melhor traduz o conceito de “Discurso para desertos”.

- Apenas adianto que não se trata de uma poesia adorável e feliz. O livro tem um discurso poético mais confessional, onde o eu lírico é o personagem central a lidar com as próprias contradições, aflições, embates com a realidade crua de um tempo repleto de incertezas e solidão. A poesia adentra a realidade do desencanto com o ser humano predador, mas se refugia na natureza que me acolhe maternal, quando subo montanhas, exploro as estrelas, ou atravesso florestas sedutoras - diz, revelando, dessa maneira, sua grande paixão pelo montanhismo.

O tema, que já esteve em outros livros da autora, aparece em poemas como “Monte e a árvore da trilha”. Exímia montanhista, ela explica o fascínio que sente por uma de suas fontes de inspiração.

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"As montanhas são o meu refúgio e templo. Ao atingir seus cumes, quem estará lá senão eu mesma? Com uma mochila nas costas, um par de botas, ganho o mundo dos meus sonhos. Experimento a liberdade do ar rarefeito dos cumes visionários e sinto-me alcançar a plenitude do ser".

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Além de seu amor pelas montanhas, a poeta também dá lugar à musicista, cantora e compositora que convivem harmoniosamente em seu ser, uma abrindo espaços para a outra em diferentes momentos de vida.

- Se eu tivesse em mim somente a poeta (romancista bissexta) seria simples administrar a vida, porém, além da literatura, existe a música (e o montanhismo que me renova e me equilibra). Componho e sou violoncelista. Sendo assim, para tocar bem o violoncelo estudo diariamente, e, tenho que afastar a bruxinha poeta que voa ao redor de minha cabeça. Porque, para cada dessas muitas coisas, necessita e supõe-se muita concentração.

Denise Emmer ressalta que seu encantamento pela poesia não é uma paixão deliberada, mas uma necessidade do espírito.

- Como algum remédio mágico para afastar os meus fantasmas ou os males do mundo - compara.

Quanto aos romances, a autora é mais reticente.

- Minha incursão no romance é bissexta. Não sei se escreverei outros, até porque nunca planejo nada. Deixo acontecer.

Em meio a múltiplos talentos, Denise Emmer não segue ritos em seu processo criativo quando visita a poesia.

- Nunca trabalho exaustivamente para não perder a espontaneidade, mas busco sempre a melhor arquitetura do verso e aquela palavra que remete ao mágico e complementa o texto para resultados imprevisíveis. Levo a vida normal cotidiana. Somente em meu íntimo, refugio-me no secreto silêncio e segredo. É um fazer oculto, sem alardes, em que guardo o texto a sete chaves e revelo apenas quando dou por terminada a jornada.

Para ela, a inspiração é um estado especial, no qual poetas e músicos se permitem mergulhar.

- É uma permissão da alma para que entrem as luzes, musas, enigmas, tristezas, perdas, amores, imagens inesperadas, inusitadas criaturas. E, igualmente, o imenso desejo de transcrever em versos esses códigos e impressões que passam qual um filme, refletido na parede do quarto.

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Ao longo das 80 páginas de “Discurso para desertos”, que tem prefácio do ator, escritor e dramaturgo Sergio Fonta e orelhas do poeta da ABL Carlos Nejar, Denise Emmer apresenta ao leitor o resultado da viagem feita durante os quase dois anos em que se debruçou sobre a feitura do livro. Assim, nos versos do poema “Pequena elegia para Marcos”, está a homenagem ao irmão morto na infância.

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- Meu irmão Marcos, o caçula, morreu na primeira infância, quando eu também, uma menina, tive que lidar com a precoce ideia da morte. Em meu primeiro livro, “Geração estrela”, que publiquei muito jovem, escrevi um poema para ele. Emocionado, desmedido, mas verdadeiro. Hoje, na maturidade, esta lembrança e saudade vieram à tona sem que eu sequer programasse. Uma elegia dolorida que me remete a um passado onde ele estava entre nós. Bem como à sua repentina e triste partida. 

Em “Meus mortos já se vão longe” a poeta também expõe a dor, ainda latente, da morte de seus entes queridos. Para ela, a concepção da morte e de que tudo se finda não é compreendida pelos ocidentais assim como é para outras culturas.

- Esse poema, externa a sensação de que nossos mortos já foram mais próximos quando naquele instante da partida. O tempo os afasta cada vez mais para os longes, jamais o esquecimento, mas para um lugar além da morte, mais distante, mais inatingível por nós que ficamos e ficávamos à espreita de um sinal, um momento místico em que pudéssemos “revê-los”. Contudo, essa expectativa se apaga na mesma proporção da velocidade contínua do tempo.

E fala sobre a sensação de imortalidade que a juventude nos proporciona.

- Quando muito jovens, aceitamos riscos, provocamos o perigo sem temor. O passar dos anos nos revela, aos poucos, a realidade da finitude. É quando ficamos mais frágeis e as perdas se sucedem qual um ritual de despedidas. Um baralho, cujas cartas começam a cair diante de nossa impotente condição de mortais.

Com o poema “Medo” a autora parece nos sacudir para a realidade ao abordar a onda de violência que nos assombra cotidianamente.

- Vejo que o mundo perdeu o controle sobre suas ações cada vez mais bestiais. A humanidade está com a enfermidade do ódio e da ganância. Se por um lado alcançamos o estágio tecnológico do conforto e praticidade, por outro, a ambição desmedida resulta em consequências de catástrofes humanas, tais como a fome, a pobreza, a subvida. Então, o resultado deste paradoxo é a violência incontrolável. O estado de guerra no qual vivemos.

Mas no livro não faltam também espaço para o amor, para as memórias e para o encantamento que a poesia por si só já presenteia o leitor. E assim a poeta vai nos contando, por meio de seus versos, sobre os desertos e os oásis que encontrou em seu caminhar.

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Por Jean Carlos Gomes  –  poearteditora@gmail.com

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