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Causos

O casório de João Punhanga

João, que já namorava a Maria há algum tempo, resolveu se casar e pediu conselhos ao Juiz de Direito da cidade; afinal, João engraxava as botas do Juiz de três em três dias

Colunistas  –  28/10/2019 10:15

Causo 

(Fotos Ilustrativas/Pixabay)

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João esperava uma palavra de incentivo, uma aprovação, um habeas corpus para poder se matrimoniar em paz e, no entanto, recebeu uma carraspana

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João Punhanga foi criado em Comercinho, mas era natural de Curralzinho (Currazinho ou Curralinho como se dizia naquela época, nos tempos do Onça). Sabido era que, vivendo naquelas paragens não iria progredir, por isso decidiu que aos 18 anos, quando se tornasse de maior, iria para a cidade grande. E a maior que existia nas proximidades era a antiga São Miguel de Almas, da comarca de Conceição do Mato Dentro. Plano feito, plano executado: bateu na casa dos 18 e se pôs na estrada, rumo à nova vida. 

Na cidade, sem emprego, padrinho ou ninguém, para se virar, comprou uma caixa de engraxate e como era um caboclo atarracado e valente, se apossou do melhor ponto da cidade, a praça do fórum. E ali vivia do trabalho de deixar os velhos sapatos com cara de novos e seus donos com ares de gente importante. Um de seus clientes mais assíduos era o Juiz de Direito para quem engraxava as meritíssimas botas três vezes por semana. Sua excelência acabou tomando gosto pelo João Punhanga e se tornaram amigos.

Passa o tempo e o João que já namorava a Maria há algum tempo resolveu se casar e pediu conselhos ao dono das meritíssimas botas que ele engraxava de três em três dias. Queria na verdade uma aprovação se Sua Excelência, que, ao contrário, passou-lhe um especial: “Donde já se vira tamanho despautério, um simples engraxate querer se casar? Com que trataria da esposa e dos filhos que, invariavelmente, nasceriam deste enlace?” João recebeu aquele golpe como um soco no estômago semivazio. Esperava uma palavra de incentivo, uma aprovação, um habeas corpus para poder se matrimoniar em paz e, no entanto, recebia uma carraspana? Deixa estar! Dizem que um matuto guarda seu desafeto por toda a vida. Ledo engano! O matuto guarda o dito cujo por toda esta vida e metade da outra.

Semanas depois estão as meritíssimas botas recebendo os bons cuidados do Punhanga, sério, calado e introspectivo, quando Sua Excelência o interpela e:

− Então amigo João, já desistiu do seu intento de se casar? Afinal, daqui uns anos, vêm dois ou três filhos e o amigo vai tratar deles com o quê?

E o Punhanga não precisou guardar mais sua ira.

− Doutor, é o siguinte: vou tratá deles co´a providênca divina, as minhas engraxações e a puta que o pariu!

Dois meses depois, com a providência divina e os demais, após sair da cadeia, casou-se com sua Maria e foram felizes um tempão! 

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Por Francisco Ferreira  –  francisco.ferreira2606@hotmail.com

2 Comentários

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  • Vera Buosi

    Não tem juiz, não tem ninguém que me impeça de fazer o que quero. Esse é dos meus. Genial, poeta

  • Sônia Regina Baesso

    Muito bom,adorei