(Foto Ilustrativa)
Ah cara, vai pro inferno!
Ela subiu as escadas na plenitude da sua razão, subi atrás, mas pra pegar uma cerveja antes de sair. Depois de comprar e pagar, mudei de ideia, decidi dar uma olhada no ambiente. Queria achá-la, forçar um pouco de compaixão e empatia, pra foder no fim de tudo. Coisa que todo homem num momento da vida se sujeita e se arrepende. Dei uns vinte passos sofridos no meio da multidão. Mesma visão da escada, sensualizava no cangote de outro, como fazia comigo, em tantas outras noites quentes e minhas. “Esse é o preço, esse é o valor, o nocaute no último round da última luta”. Se dependesse dela eu teria que brigar com todos os homens do bar, ou só com ela, mas por Deus, eu não era homem o suficiente pra bater em uma mulher bêbada, muito menos em todos os homens do bar. Desci as escadas para fumar.
Do lado de fora, o cara do episódio na escada me chamou, virei o pescoço com o cigarro na boca.
- Ei, desculpa aí cara, pensei que ela estava sozinha. Você quase arrancou minha cabeça.
- Tudo bem - falei - Olha só, também não costumo brigar por mulher. Deve ser por isso que elas vão embora.
Sentei no meio-fio. A noite era fria, muitas outras pessoas fumavam por ali, as luzes dos postes iluminavam tudo, todas aquelas cabeças ordinárias que nada sabiam da loucura que enraizava por dentro das outras cabeças. O centro da cidade, paredes sufocantes, eu preferia estar no sofá, tenho em mim que beber é como rezar, só é verdadeiro em casa. Uma moreninha bonitinha saiu do bar, sentou também e me pediu um cigarro, começamos conversar. Empolguei-me com ela, Marisa, era descontraída, de pele muito branca, olhos negros.
- Escuta aqui sua moça sem cigarros - falei - que tal irmos lá em casa fumar os meus?
- Meu namorado não iria gostar.
- Por que não pede cigarro pra ele então?
- Ele não fuma.
- Então você é só mais uma das tantas mulheres oportunistas. Eu te forneço algo, você não me fornece nada. É a transação perfeita pra você.
- Ah cara, vai pro inferno!
Jogou a bituca fora e entrou no bar. Poderia ficar, tentar qualquer outra bêbada, mas há ocasiões em que só se retirar alivia. E esse momento é tão íntimo como tirar as meias.