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Romance

Passado envelhecido (3)

Só conseguia ver suas pernas se balançando enquanto xingava um possível clone meu

Colunistas  –  28/12/2019 08:37

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(Foto Ilustrativa)

Era um poneizinho prostituto

 

Comecei a ler o livro enquanto andava sob as luzes dos postes, já tinha me habituado ao caminho, pisava sem olhar, atravessava ruas sem olhar.

Estava relendo a primeira página pela décima ou mais vezes, quando ouvi uma mulher no orelhão ao lado do mercado esbravejando coisas: “Você me fez vir até aqui e não quer mais? Você com certeza é o maior idiota do bairro! O maior idiota da cidade! O maior idiota do Brasil! O maior idiota do seu cu! Filho da puta!”.

Só conseguia ver suas pernas se balançando enquanto xingava um possível clone meu. As ruas estavam infestadas de Ramon´s e todos eles eram iguais, sabiam exatamente como deixar uma mulher furiosa. Parei um pouco na luz de um poste e fingi ler enquanto continuava ouvindo, ela cada vez mais doida: “O quê? Sua mulher vai chegar daqui a pouco? Por que me ligou então? Vou aí foder ela na tua frente!... Chamar a polícia? Eu fodo eles também! Na tua frente!... E como fica o ônibus que peguei para chegar até aqui?... Você não sabe?...”

Tentei ler de verdade, mas sem sair dali, suas pernas eram curtas. Volta e meia olhava-a dando pulinhos, endiabrada. Sua voz rebatia naquele orelhão e se expandia mundo afora. Era engraçado. Todos mereciam estar ali no meu lugar. Eu somente ria dos seus pulinhos. O mercado já estava fechado. Pegar um ônibus pra vir transar deixaria qualquer mulher maluca mesmo, principalmente se não tivesse dinheiro pra voltar. Por fim ela desligou e eu finalmente consegui engatar a segunda frase mais uma vez.

A princípio ela não me viu e ficou olhando pro céu, parecia procurar uma corda. Parei de ler e analisei o que o Ramon 2 havia refugado em cima da hora. Ela realmente era curta. Seu vestuário beirava o colapso. A parte de cima era toda preta, e salientavam umas tetas curtas também. Usava botas até perto do joelho, o que a encurtava mais ainda. Era um poneizinho prostituto. Foi então que me viu investigando o que Ramon 2 outrora queria, e falou de onde estava mesmo:

- Ei leitor, quer transar por R$ 50,00?
- Prefiro ler. E não tenho R$ 50,00 - respondi.
- Quanto você tem? 

Atravessei a rua e fui ao seu encontro. Ela ia diminuindo a cada passo meu. Ramon 2 era a melhor cópia do original. Não sabia o que fazia  mesmo.

- Tenho R$ 20,00 reais aqui - falei - mas se eu gastar tudo amanhã não tenho dinheiro pra fumar.
- Quantos cigarros você fuma por dia?
- Depende. Durante a semana em torno de trinta por dia. Final de semana que é dureza. 

Ela abriu uma bolsinha curta também, que eu mal tinha percebido.
Arrancou um maço de cigarros, fez uma contagem breve e disse que tinha sete cigarros. 

- Pois é - eu disse - é pouco.
- Qual seu nome?
- Ramon e o seu?
- Gabriela.
- Onde você mora Gabriela?
- Nem queira saber. Por favor cara, vamos dar uma por R$ 20,00. Olha pra mim, “valo” muito mais que isso. 

Virou sua bunda curta, deu uma mexida para me animar. Não me convenceu.

- O que você acha do seguinte Gabriela. Te dou R$ 14,00 pela foda e você me dá os sete cigarros.
- Não. R$ 20,00 é meu preço mínimo.
- Humm... Beleza, vamos trepar. Mas antes me dá esses sete cigarros.
- Posso fumar um?
- Ah Deus. Fica com esses cigarros aí. Vamos lá pra casa. 

Continua... 

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Por Ramon Carlos  –  ramoncarlos@estrabismo.net

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