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Travessia Tensa e Intensa

Reflexões sobre a quarentena

Uma lição de paternidade integral diante do isolamento social

Colunistas  –  25/04/2020 23:28

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(Foto Ilustrativa)

A paternidade integral é, não tenho dúvida, o lado mais intenso de todo este isolamento

 

Inicio esta coluna desculpando-me aos leitores pela ausência. Os dias de isolamento não estão sendo fáceis, apesar de necessários. Somam-se aos tormentos o festival de atormentados que não ajudam em nada e ainda atrapalham essa travessia tensa e intensa.

Desde o dia 18 estou isolado, em casa, na companhia de meus dois filho, Benjamin e Leonardo, de respectivamente 6 e 3 anos. Minha esposa é enfermeira e, portanto, segue levando a vida com todas as suas incertezas e temores que todos já sabem.

Entre um trabalho remoto e outro, um telefonema com algum colega de trabalho, uma limpeza na casa, um preparo de almoço e as atividades com as crianças, busco algum amparo na leitura e na escrita poética. Confesso que tudo isso está sendo difícil, mas suportado graças a alguma certeza e uma moderada dose de ansiolítico.

A certeza é de que tudo passa e de que, mesmo afundados nesse mar de incerteza, sempre temos algo a aprender que será, com um pouco de sabedoria, levado para a vida. É certo que tudo estaria sendo mais fácil se houvesse alguma harmonia política e alguma estabilidade econômica. Mas, infelizmente, no Brasil, tudo parece ser muito pior quando olhamos para nossos políticos e gestores; à esquerda e à direita.

A ideia de isolamento, para mim, tem seus prós e seus contras. Por um lado, nunca foi um problema estar sozinho, física e emocionalmente. Confesso que em alguns momentos trata-se até de um sonho existencial. Sabe, aquela ideia de morar numa casinha no meio do nada, rodeada de livros, vinhos e café, muito café? Na vida real, entretanto, é preciso se adaptar a um mundo caótico, com filhos correndo ao redor da gente, gritando, brigando e nos impedindo de ter a almejada paz de espírito e desenvolver atividades intelectuais, digamos, um pouco mais complexas como, por exemplo, escrever esta crônica que entrego ao leitor.

Por outro, filhos nos ensinam muito sobre nós mesmos. Nos mostram, ora como ternura e ora como tortura, o quanto somos duais, erráticos, descompensados e desequilibrados. Mas, ao mesmo tempo, o quanto podemos ser melhores do que somos e o quanto somos capazes de desenvolver nosso processo criativo em situações adversas, instáveis. A paternidade integral é, não tenho dúvida, o lado mais intenso de todo este isolamento.

A entregada de um pai à plena paternidade é, sem qualquer sombra de dúvidas, minha maior lição durante estes quase 40 dias de quarentena.

Espero sair disso melhor do que entrei e que meus filhos não saiam tão traumatizados.

E você, quais suas reflexões e lições deste período? 

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Por Giovani Miguez  –  giovanimiguez@gmail.com

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