(Foto Ilustrativa)
O vírus, no meio desta guerra, é apenas um coadjuvante que ganhou destaque por que os protagonistas são medíocres
O dia amanheceu chuvoso. O céu cinza espelhava minha mente turva, carregada e cansada. Já são 60 dias em confinamento, isolado do mundo real, sendo alimentado apenas pela pornografia informativa de uma guerra da razão contra a dissimulação dos imbecis.
O vírus é uma realidade. O verme que nos governa, uma fatalidade. Se um deles era inevitável, o outro poderia ser contornado. Mas o radicalismo de uma política polarizada e nivelada por baixo nos impôs os dois. O real e o fatal. Enquanto o vírus vai avançando sobre nossas vidas miseráveis, o verme vai agravando e tornando tudo mais difícil e perigoso
Trata-se, diriam alguns especialistas em boçalidades, de um confronto entre o homem e o vírus. Eu, sem querer ser especialista em nada, diria que trata-se apenas do homem contra o homem. O vírus, no meio desta guerra, é apenas um coadjuvante que ganhou destaque por que os protagonistas são medíocres.
Se teríamos que enfrentar a pandemia de qualquer jeito, por que não enfrentá-la à luz do bom senso, da solidariedade e da razão? Mas não, preferimos ser esse arremedo de humanidade. Nesse fim de semana, chegamos a 15 mil mortos (oficiais!) e já passamos de 200 mil contaminados (também oficiais). Mas sabemos que os números são bem maiores e que a falta de uma concertação republicana nos levará, possivelmente, a uma espiral macabra.
Nesses 60 dias, não consigo ser otimista. A realidade se impôs. Minhas vãs utopias se realizam como trágicas distopias. A humanidade, apesar de toda a técnica, falhou na vocação antropológica e humanista. Nos tornamos objetos à mercê da técnica (do capitalismo) que se impôs como sujeito e, assim, nos sujeitou à sua lógica insana, cruel e desumana.
Essa dicotomia tola entre vida humana e economia é a prova cabal disto. Esquecemos que a Economia é uma ciência humana e não um amontoado de números e técnicas que financeirizam a vida e as relações. Aliás, insisto há algum tempo: toda ciência, antes de ser exata, médica, natural ou seja lá o como a chamamos, é sempre essencialmente humana, mesmo que o fenômeno não seja.
Destarte, impõe-se mais do que nunca, resgatar nossa ética humanista e nossa dimensão espiritual para que possamos superar o vírus e o verme, a pandemia e o pandemônio, a realidade e a fatalidade.
Podemos sair disto tudo mais fortes, mas humanos e mais unidos. Ou podemos passar por isso como passamos por outras tragédias recentes: pensando que somos objetos e que o grande sujeito, o que importa, é o capitalismo, esse demiurgo que nos controla, porque nos permitimos rebaixar a mero objeto.
Eu espero, com sinceridade, que ainda haja humanidade em nós.