
(Foto Ilustrativa)
Papai bebia. / Estava acorrentado / naquele malefício, / mas não sabia.
Papai bebia.
Era um hábito,
um vício!
Quando criança,
a gente até se divertia
com o ofício
de ser companhia
do papai todo santo dia
em troca de um mineirinho
e algum salgadinho.
Essa mania
de beber todo dia
nunca fez muito sentido,
mas era até divertido
ver papai cheio de alegria,
todo dia, apesar da vida
ser tão atrevida.
Papai bebia.
Estava acorrentado
naquele malefício,
mas não sabia.
Mais tarde,
depois da terapia,
percebi que eu me ressentia
daquele papel covarde
de dama de companhia
que me cabia.
Na adolescência,
quando tomei ciência
de toda aquela covardia,
fui tomado por grande rebeldia,
por uma indignação descabida,
até meio desproporcional,
pois o maldito vício na bebida
era por pura imposição
do contexto social.
Eu sei,
não é desculpa.
Mas, aceitei...
Não era questão de culpa.
Era um fato, mas passado.
Não precisava ter carregado
um fardo tão pesado
como carreguei.
Papai parece estar sóbrio
desde que me casei.
Ganhou brio!
Não foi fácil, eu sei,
vencer o homem ébrio
que por anos o dominou.
Enquanto isso, cá estou,
tentando largar o vício -
esse ofício! -
do papel que me restou
sem o ébrio que se libertou.