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Dimensão Humana

Espiritualidade em tempos de pandemia

A religiosidade e a espiritualidade podem e devem ser formas de abertura para novas relações, tanto com a religião no seu sentido institucional quanto também com os arreligiosos

Colunistas  –  11/06/2020 21:46

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(Foto Ilustrativa)

Por que aconteceu isso conosco? Por que tantos morreram e morrem? Estamos sendo punidos ou testados? Fomos abandonados? O que virá depois? Necessitamos repensar não apenas nossa relação com Deus, mas com os nossos ditos semelhantes?  

 

Desculpem-me se nesta nova troca de ideias, mais uma vez, surge o tema da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), mas inegavelmente este acontecimento suscita e ainda suscitará questões e problematizações por longas gerações. Especificamente na reflexão que estou propondo nesta oportunidade, relaciona uma tragédia de proporções que ainda não temos noção de avaliar com um tema às vezes delicado de se expor: a dimensão humana da espiritualidade.

Percebam que não me focarei restritamente no sentido da religião, embora haja relação, mas deve-se levar em conta que há os que cultivam a espiritualidade sem necessariamente seguirem uma confissão religiosa. A espiritualidade é caracterizada como a dimensão própria de todo ser humano e o estimula na experiência transcendente de tentar dar sentido e resposta aos aspectos fundamentais da vida. Como coloca Viktor Frankl, “a experiência religiosa faz parte de uma vida com sentido, em que o ser humano explora a força de sua dimensão espiritual” (*Frankl, 2010).

Nesta perspectiva, tanto a espiritualidade quanto a religiosidade, englobam a dimensão essencialmente experiencial. A espiritualidade, nesse sentido, não é monopólio das religiões. Ela é inerente ao ser humano e comumente se expressa por meio da religiosidade, mas a religião pode não estar necessariamente presente. Caracteriza-se enquanto a dimensão que eleva o ser humano frente às questões da sua interioridade, no anseio de encontrar respostas às perguntas existenciais: De onde vim? Para onde vou? Qual é o sentido da minha vida? E aqui aproveito para inserir a pandemia: Por que aconteceu isso conosco? Por que tantos morreram e morrem? Estamos sendo punidos ou testados? Fomos abandonados? O que virá depois? Necessitamos repensar não apenas nossa relação com Deus, mas com os nossos ditos semelhantes? 

Desta forma, a pandemia da Covid-19 também traz desafios e questionamentos para este âmbito tão complexo da existência humana, devido principalmente ao potencial tão traumático provocado pelo coronavírus, confrontando-nos com a nossa finitude e vulnerabilidade. Por outro lado, temos a oportunidade de avaliar e repensar de que modo temos experimentado e praticado a espiritualidade não só no momento da pandemia, mas sim como será no pós-pandemia. Verificar que enquanto consideradas como temáticas comuns em nosso cotidiano social, a religiosidade e a espiritualidade podem e devem ser formas de abertura para novas relações, tanto com a religião no seu sentido institucional quanto também com os arreligiosos, visando constituir uma estrutura social mais sadia, promovendo-se maior tolerância e reconhecimento às liberdades e escolhas, além de repensar princípios, como a solidariedade e a fraternidade. 

*Frankl, V. (2010). O homem em busca de sentido. Petrópolis: Vozes.

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Por Rogério Luís da Rocha Seixas  –  rogeriosrjb@gmail.com

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