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Premiação 2026

Manifestação Divina

Poética como religião

A poesia está tornando-me um cronista, um observador mais apurado e um prosador mais sutil; mas tem ido além; tem sido uma experiência espiritual

Colunistas  –  12/06/2020 12:35

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(Foto Ilustrativa)

Deus, esse ser que gera tantas confusões ontológicas, epistemológicas é, penso, também Poesia; não o poema ou o poeta; mas a Poesia na sua pureza ontológica

 

Não sou, creio, um bom prosador e um bom cronista. Mas a poesia, essa amante atrevida, tem me ensinado a observar mais o mundo exterior, sem perder de vista minha própria experiência no tocante ao meu mundo interior.

Sou um poeta existencial, tenho afirmado e reafirmado, e, por isso, orientado para meu mundo interior com maior intensidade. Mas, aos poucos, a maturidade de poeta-observador tem me feito olhar para além do próprio umbigo. Assim, sinto-me mais rico, não só como escritor, mas como ser humano, como cidadão e como pai.

Desde que reencontrei a poesia, tenho notado todo o potencial terapêutico que há nos versos, nas estrofes e nos poemas. Se ler poemas já nos enriquece, imagine escrevê-los! Minha experiência estética e ética vivenciada pela minha orientação poética revelou-se absurdamente proveitosa, tornando-me um cronista, um observador mais apurado, e um prosador mais sutil. Mas vai além. Tornou-se uma experiência espiritual.

Observar um pássaro voando, uma mulher caminhando ou um simples entardecer é um ato de comunhão com a Realidade, um ato de encontro com a dimensão espiritual que nos humaniza e, a cada dia que passa, vou me convencendo que esta dimensão espiritual é essencialmente poética.

A poesia é, nesse sentido, uma manifestação Divina. O poema, a liturgia, o símbolo. O poeta, o médium ou o sacerdote que nos aproxima da Realidade absoluta encarnada pela essência poética que nos habita e ao mesmo tempo nos engloba.

Sim, senhores, Deus, esse ser que gera tantas confusões ontológicas, epistemológicas é, penso, também Poesia. Não o poema ou o poeta. Mas a Poesia na sua pureza ontológica. Talvez seja esse o erro das religiões: encarnar a essência, a Realidade Absoluta, na forma simbólica ou no meio que a transmite.

Não quero com isso, fique claro, fundar a Igreja da Poesia (a Poética como apostolado), mas dizer que há na poesia uma religião pessoal capaz de nos religar à Realidade, ainda que por meio de símbolos (poemas) e médiuns (poetas).

É neste sentido que defendo a Poética como religião pessoal. 

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Por Giovani Miguez  –  giovanimiguez@gmail.com

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