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Sentido Ético

A pandemia e a banalização da morte

Devemos deixar interesses individuais de lado e buscar o cuidado com o todo, para não contribuirmos com o aumento desta estatística mortal pelo novo coronavírus (Covid-19)

Colunistas  –  23/08/2020 19:38

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(Foto Ilustrativa)

É preciso aliar as necessidades econômicas e sociais, que são importantes, com um sentimento e atitude de maior solidariedade e cuidado entre nós, desenvolvendo maior empatia com os que pranteiam seus mortos

 

Desculpe-me por trazer para esta troca de ideias, um tema que em seu bojo se apresenta como bastante desagradável para nossa existência: a morte. Obviamente, o que nos assusta não é a morte em si, pois ela faz parte de nossa existência, mas sim a ideia de morrer. O medo da nossa condição de finitude. Contudo, nesta ocasião, proponho a seguinte reflexão: a banalização da morte. Não estou me referindo aqui ao ato de matar o outro por diversos motivos e não se incomodar com o ato de matar. Em não se deixar interpelar por questionamentos ou reflexões que possam colocar em xeque o porquê se mata ou por qual motivo determinado indivíduo e/ou grupos são passíveis de serem deliberadamente exterminados, qualificados inclusive como sendo seres matáveis.

Gostaria de aludir à banalização da memória e morte do outro em meu entorno. A indiferença com um grau ou quadro de mortalidade que apenas ouço dizer e que não necessariamente me importa. Penso que enquanto escrevo este texto o número de cem mil mortos pelo novo coronavírus (Covid-19) em nosso país foi ultrapassado, devendo-se levar em conta as subnotificações. As comunidades que não são assistidas e deixadas de lado, onde o número de óbitos é desconhecido ou desimportante.

Quando ouvimos sobre o número de óbitos, no geral, e não quero dizer em todos, pois a generalização é uma burrice, fica-se apenas a noção de uma estatística. Não aludimos às pessoas que perderam suas vidas e também não nos identificamos com os seus entes queridos que experimentam a dor da perda. Tem-se a sensação da morte de outros que não conheço. Não sei se existiram ou não. Caso não tenhamos conhecido alguém que morreu, tal percepção torna-se mais intensa. 

Meu interesse aqui visa tecer uma reflexão mais voltada para o sentido ético, onde talvez devêssemos, enquanto sociedade, incluindo tanto a responsabilidade dos governados quanto dos governantes, nos concentrar mais na preservação de vidas. Tentar aliar as necessidades econômicas e sociais, que são importantes, com um sentimento e atitude de maior solidariedade e cuidado entre nós, desenvolvendo maior empatia com os que pranteiam seus mortos e não permitirmos que a memória de suas mortes seja banalizada, resumindo-se a uma mera estatística.

Penso que todos devemos deixar nossos interesses individuais de lado, para buscar o cuidado com o todo, para não contribuirmos com o aumento desta estatística mortal e diminuirmos a nossa atitude de banalização da morte, não só a nossa, mas também a do outro que faz parte de uma mesma sociedade, que se encontra neste momento difícil.       

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Por Rogério Luís da Rocha Seixas  –  rogeriosrjb@gmail.com

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