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Senhores da Natureza

Crise ambiental e responsabilidade humana

É preciso perceber que nossas ações destrutivas contra o meio ambiente nos afetam também e que deve haver limites para a exploração econômica e técnica

Colunistas  –  25/09/2020 18:46

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(Foto Ilustrativa)

A mudança de mentalidade, para ser mais efetiva, necessita ocorrer obviamente de forma radical em nível mundial

 

Para iniciarmos esta nova troca de ideias, faz-se necessário destacar um fato histórico que atualmente demonstra-se como um problema essencial: a relação entre o ser humano e a natureza, desde a Modernidade, sempre se demonstrou conflituosa. Afinal, com o desenvolvimento científico que se acentuou e avançou até nossa atualidade, nós seres humanos colocamo-nos na condição de “senhores da natureza”. E, a partir dessa posição, o que denominamos de natureza torna-se passível de sofrer nossa intervenção e ganha o papel de uma fonte inesgotável de recursos para nossa exploração econômica e material. Ora, se desejamos compreender a crise ambiental pela qual passamos, devemos nos reportar exatamente a essa condição de meio ambiente com a nossa ligação com o estado da natureza.

Tal atitude reflexiva torna-se essencial para podermos nos conscientizar de que as relações sociais estão inseridas no sistema ecológico do planeta. Numa primeira vista, essa dificuldade revela uma concepção estreita de natureza: a importância sobre o conjunto dos ecossistemas em suas múltiplas variações e relações. Deve-se analisar e refletir que, quando fazemos referência à crise socioambiental, não podemos separar tão simplesmente o cenário cultural onde o homem busca se refugiar do cenário natural, pois o homem faz parte da natureza, ou, em outros termos, está ligado ao meio ambiente da Terra, sendo esse sua casa comum.

Precisamos então perceber que a degradação da sociedade é uma face da crise ambiental, que corresponde ao estado crítico em que se encontra a natureza, devido exatamente à nossa falta de responsabilidade e ignorância com relação ao nosso pertencimento a essa natureza, isto é, ao meio ambiente, para despertarmos para nossa atitude urgente de responsabilidade moral e política quanto às nossas intervenções nocivas, que têm se acumulado ao longo de anos e ainda são minimizadas e desprezadas.

Claro que devemos nos livrar de um imaginário romântico da natureza-paraíso que produziu uma noção de natureza superficial e mesmo ingênua frente aos problemas revelados pela crise ambiental. Também devemos desfazer a ideia de que os recursos naturais são inesgotáveis e podem ser manipulados de modo desresponsabilizado. Uma das ações mais difíceis da compreensão crítica sobre a crise ambiental consiste em descontruir essa ideia romântica. Torna-se imperativo investir numa desconstrução desse discurso para compreender a necessidade de um aprofundamento de seu sentido, uma maneira de torná-lo mais forte para nos chamar a tecer reflexões críticas com respeito à nossa responsabilidade para o bem-estar da “casa em comum”.

É preciso perceber que nossas ações destrutivas contra o meio ambiente nos afetam também e que deve haver limites para a exploração econômica e técnica, visando garantir condições de sobrevivência para as gerações futuras. Indubitavelmente, para alcançarmos essa noção de responsabilidade com efeitos práticos, deve haver uma mudança de mentalidade em todas as esferas da ordem social, como a da nossa sociedade, por exemplo, que assiste com certa passividade a destruição de ecossistemas essenciais para a saúde, não apenas de nosso país mas da casa comum, isto é, o meio ambiente planetário. Essa mudança, para ser mais efetiva, necessita ocorrer obviamente de forma radical em nível mundial. Dessa forma, a implantação de uma educação ambiental nos bancos escolares pode desenvolver nas novas gerações o sentido crítico-filosófico referente à crise social e ambiental. Visa-se assim construir uma nova responsabilidade diante das ações, estabelecendo o sentido de uma sabedoria ambiental que nos coloque em maior harmonia quanto à relação homem-meio ambiente. 

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Por Rogério Luís da Rocha Seixas  –  rogeriosrjb@gmail.com

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