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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Luto

A despedida de Paulo Roriz

Representante do resgate do forró de raiz sofreu infarto, em Volta Redonda; Paulinho destacava em seu repertório músicas com temas ecológicos, cirandas, músicas de folclore, de quadrilha ou rojão, e as clássicas

Colunistas  –  28/10/2020 10:44

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(Foto: Arquivo/Divulgação)

Paulo Roriz, o Paulinho, deixou sua marca na arte/cultura da região com a Banda do Pilão, que ganhou o Prêmio OLHO VIVO 2015 

 

O sanfoneiro e vocalista da Banda do Pilão, Paulo Roriz, morreu na noite de terça-feira, 27 de outubro, vítima de infarto. Paulinho, como era conhecido, foi um dos maiores representantes do resgate do forró de raiz. No repertório, músicas com temas ecológicos, cirandas, muito forró nordestino. Mais: músicas de folclore, como "A lenda do boi pintadinho"; música de quadrilha ou rojão; e as clássicas conhecidas do povão, entre elas, "Esperando na janela", "Isso aqui tá bom demais", "Procurando tu", "Morena tropicana". A Banda do Pilão ganhou o Prêmio OLHO VIVO 2015.

- Ele já era safenado, fazia tratamento. Sofreu um infarto fulminante, quando estava em um barzinho, no Aterrado, em Volta Redonda. Chegou a ser socorrido, mas, infelizmente, não resitiu - conta Lúcio Roriz, irmão de Paulo.

O sepultamento do corpo de Paulinho será às 13h30, serão duas horas de velório, a partir das 11h30, na Capela B do Portal da Saudade. Seguindo o protocolo de segurança, devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), só poderão entrar quatro pessoas de cada vez.

Em homenagem a Paulo Roriz, o OLHO VIVO relembra a entrevista que ele concedeu ao portal, em 16 de maio de 2015. Confira:

"A Banda do Pilão surgiu em meados da década de 80. A ideia inicial partiu do meu irmão, João Carlos Roriz (violão e vocal), mais dois amigos. Novinho (contrabaixo) e Marquinho (pandeiro); Matheus Bicalho (triângulo, percussão e vocal); Jorge dos Reis (zabumba); Joana Darc (vocal); eu e meu irmão formávamos a banda. Mas essa formação se desfez em pouco mais de 1 ano, e daí prosseguimos apenas eu; o zabumbeiro Jorge, meu cunhado; e Mateus (no triângulo), meu concunhado e compadre". 

"Não posso dizer que a banda tem um público fiel, mas tem sempre um público que acompanha e vai pra dançar as músicas que o Pilão toca, e está sempre perguntando, onde estamos, onde vai acontecer... Às vezes, eles saem de suas cidades para ver a banda tocar, o perfil do público é heterogêneo também". 

"Já nos apresentamos no Cana Café, Sinuca de Bico, Greens Bar, Festa Junina de 1 Real, Cine 9 de Abril, Teatro Gacemss. Até na igreja, no casamento, o noivo e a noiva queriam entrar ouvindo na sanfona a Marcha Nupcial de F. Mendelssohn. Mas às vezes viajamos muito para São Paulo, Rio e interior do Rio de Janeiro. Vamos levando nosso barquinho. É bom tocar aqui em Volta Redonda também". 

"Sou compositor, já fiz samba enredo, fiz músicas campeãs em festivais, faço forró autoral, tanto para o Pilão como para a Cia. de Teatro de Bonecos Infantocata, com o mestre mamulengueiro Jorge Gonzaga, o Gim, com quem tive um aprendizado muito grande nesse mundo. Se hoje me tornei um sanfoneiro conhecido nacionalmente, parte disso eu devo a ele, que me levou para São Paulo e Rio, quase todo o estado, fazendo teatro de boneco".

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"A cultura em Volta Redonda atravessou diferentes fases, passamos um bom tempo engessados, sem opção de casas. Hoje penso que melhorou, principalmente no que diz respeito à segurança de quem está se divertindo, pelo fato da tragédia ocorrida no Sul do país, e a cidade vem crescendo, e surgem mais espaços, e novos talentos vão aparecendo, e mais casas de espetáculos vão surgindo. Acho que a tendência é crescer mais ainda, nosso município é um dos que mais arrecadam no Rio, estamos atravessando um momento difícil politicamente, mas vamos dar a volta por cima, creio na força dos arigós". 

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"Não tenho a pretensão de gravar CD/DVD, tenho uns trabalhinhos arquivados, não acredito muito nessa mídia que hoje está por aí, o cara faz um CD ou um DVD, vem um atrás pirateando tudo. Já dizia Ariano Suassuna: A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio". 

"Em minha opinião, quanto mais raiz melhor, mas temos que respeitar todos os estilos. Chega uma certa altura da vida que passamos a ser imitados e a servir de referência, aí a responsabilidade é ainda maior. Como diz a sagrada escritura dos violeiros: Cada qual com sua classe e seu estilo de agradar". 

"Tocar na Toca do Arigó é sempre uma festa, pois fomos nós que a inauguramos, quando ainda era na Rua São João, e é sempre muito bom rever os amigos. Agora ficou melhor ainda, toda reformada e o ambiente é climatizado, e tem ficado muito animado. Às vezes precisa dar uma improvisada, de banda vira trio, que é a formação genuína que eu vinha fazendo. O trio é sempre o mesmo, é bom também tocar de trio com formação autêntica: sanfona, zabumba e triângulo". 

"Vem muita festa por aí, muito arraiá bom, e torcendo para que o mestre Gim melhore logo, pra gente botar os bonecos pra dançar. Apesar de terem me escolhido para o Conselho de Cultura como titular da cadeira Cultura Popular, e ainda ficar nesse corre corre, tem hora que dá vontade é de chutar o balde. Mas tem hora que é até bom, quando toca dentro dessas escunas nessas ilhas pelo nosso litoral, nessas fazendas, pousadas, encontros de sanfoneiros, deixa o barquinho ir embora. O pior já passou, o que vier agora é lucro, parece que não é underground, mas é, e tem sua vantagem, o sossego".

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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