
(Foto Ilustrativa)
Como falar em consciência humana, se não é reconhecido no negro exatamente essa condição?
Escrevo este novo texto para troca de ideias, referindo ao Dia da Consciência Negra. Parto do princípio de que essa data é importantíssima para a nossa sociedade como um todo, não para uma parcela apenas, buscar caminhos para construção de uma democracia de fato, mais igual e justa, repudiando exclusões e discriminações por motivos de etnia, crença e pensamento. Especificamente o racismo se apresenta enquanto uma prática política que produz poder e vulnerabilidade. Nesse ponto, esta condição de vulnerabilidade na qual a população negra é relegada não pode e não deve ser interpretada como ações isoladas ou resultantes de uma anormalidade por parte de indivíduos.
Como destaca Silvio Almeida: “O racismo na sociedade brasileira é estrutural” (2018)*. Significa dizer, que por uma condição histórica oriunda de nossa herança escravagista e colonial, além de sexista e patriarcal, o racismo institucionalizou-se e também se naturalizou. Porém, o ponto mais importante que desejo ressaltar é quanto uma colocação muito comum, feita por diversas pessoas, principalmente brancas, é claro, na data da Consciência Negra: “Deveria ser um dia de consciência humana e não negra”.
Muito bem! Destaco que um dos grandes e graves problemas passa exatamente por aí: Como falar em consciência humana, se não é reconhecido no negro exatamente essa condição? Ao contrário! São corpos animalizados. Percebidos como abjetos. São marginalizados. Os estereótipos são os mais negativadores possíveis: criminosos, preguiçosos, devassos, perigosos, etc. Tal situação permite inclusive que sejam exterminados, até com certa aceitação social, tanto em comunidades nas periferias das grandes cidades do país ou dentro de um supermercado, como aconteceu precisamente no Dia da Consciência Negra.
Assim sendo, creio que já passou a época da mera oposição ao racismo e seus efeitos deletérios que afetam a todos. É tempo de a sociedade, em todos os seus segmentos, atuar na luta antirracista de modo mais intenso e compromissado. Posso ser questionado com razão: “Então você não é racista?”. Respondo com veracidade e convicção: “Encontro-me hoje muito mais na postura de antirracista. Inclusive contra os resquícios de racismo ainda presentes em mim”.
*Almeida, S. Racismo Estrutural. São Paulo: Editora Pólen, 2018