Publicidade

RH

Crônicas de Humor e Entrevistas Poéticas

Isabel Furini

isabelfurini@hotmail.com

O Poder da Palavra

Minha vizinha doente

Sueli apresentou a papelada para a recepcionista e entrou na sala para o exame

Colunistas  –  04/12/2020 19:44

9742

 

(Foto Ilustrativa)

“Doutor, quero a verdade, eu sei o que tenho... Quero que saiba que sou espiritualista e estou preparada para a morte”

 

Você, em algum momento, parou para pensar no poder da palavra? Não estou falando de mantras nem de orações religiosas, mas de palavras... Palavras simples como: “você é inteligente”, “você é burro”, “você está linda”, “você está gorda” ou “você está pálido”, “você parece um morto vivo”, enfim, palavras que alegrem, entristeçam, ofendam, deprimam, entusiasmem, motivem.

Já o velho Esopo deve ter notado essa característica humana, porque escreveu uma fábula sobre um rei que pediu a seu conselheiro um alimento capaz de ajudar a humanidade. O conselheiro, muito sábio, solicitou que o cozinheiro preparasse um guisado de língua. Alguns dias depois, o rei quis comer algo que tivesse o poder de destruir os homens. O conselheiro foi até a cozinha e ordenou, novamente, servir ao rei um guisado de língua.

Uma experiência sobre o poder da palavra tive eu, há algumas semanas. De manhã, bem cedo, alguém bateu à porta. Era minha vizinha Sueli, a baiana. É uma pessoa simpática e parece esbanjar alegria. Mas, nesse dia, parecia preocupada.

- Amanhã farei um exame de cólon e preciso que alguém me acompanhe.

Nesse momento, Lucirene, a gordinha do quinto andar, descia a escada e, ao ver minha vizinha, fez um inquérito sobre sua saúde.

- Sangramento retal é o que teve a Rosângela, lembra dela? Morava no prédio ao lado... Morreu no princípio de ano. E a nora da Ester também começou assim... Morreu em poucos meses.

À medida que Lucirene falava, Sueli ficava mais e mais pálida. Convidei-a para entrar e tomar um chazinho. Falamos bastante sobre a vida e a morte e sobre religiões. Ela disse que estava em estado terminal. “Nem pense nisso...”, reclamei, mas com pouca convicção.

No dia seguinte, pegamos um táxi e, às 7h20 chegamos ao hospital. Sueli apresentou a papelada para a recepcionista e entrou na sala para o exame. Depois, Sueli e eu entramos no consultório. O médico olhou o resultado. Sueli, olhando-o fixamente, disse:

- Doutor, quero a verdade, eu sei o que tenho... Quero que saiba que sou espiritualista e estou preparada para a morte.
- Para a morte? - perguntou o médico e soltou uma gargalhada estrondosa.
- Para a morte? Está pensando o quê? Ninguém morre de hemorroidas!

________________________________________________________

 

Por Isabel Furini  –  isabelfurini@hotmail.com

Seja o primeiro a comentar

×

×

×