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Existência Humana

A peste e a experiência de ser

Bem que o coronavírus, à semelhança de pestes que alteraram o curso da existência humana, poderia funcionar pedagogicamente para nos desafiar a deixarmos de ser o que somos, para buscarmos ser de outro modo

Colunistas  –  08/02/2021 05:51

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(Foto Ilustrativa)

Talvez o mais preocupante seja que há aqueles que buscam existir, bem no centro da pandemia, como se o normal de antes se mantivesse; uma experiência ilusória, buscando escapar da realidade do agora

 

Como podemos definir uma peste? Embora apresente um significado mais relacionado com a área de saúde, as suas noções são variadas em conotações e simbolismos.

Indubitavelmente, o termo “peste” apresenta uma característica comum: momento de medo da morte e confronto com nossa fragilidade, além de desvelar nossa finitude.

Historicamente, a peste negra representa a expressão dessas dimensões da existência humana, quando inclusive foi apontada como o fim da humanidade que se encontrava sob um tipo de castigo divino, por conta dos erros e pecados cometidos, sendo necessário que os homens fossem castigados para buscarem a redenção. O mundo não acabou. Ou pelo menos, não com o tom apocalíptico como se pensava. Mas o que aprendemos com essa e outras experiências de ser? Outras formas de peste, como a da guerra, fome, miséria e destruição da vida em seu todo, nos ensinaram ou ensinam alguma coisa?

Por favor, quando apresento este tema para nossa troca de ideias, não pretendo colocar a pandemia da Covid-19 em proporções idênticas à peste bubônica. Só o desenvolvimento tecnocientífico que adquirimos hoje torna tal pretensão inviável. Contudo, o que estamos aprendendo agora, com a pandemia do novo coronavírus?

Nossa experiência de ser, ao sermos desafiados pela morte causada por um vírus e relembrados quanto nossa condição existencial limitada, apesar do potencial tecnológico que possuímos, nos faz refletir a respeito de como devemos de fato experenciar nossa existência de ser?

Bem que o coronavírus, à semelhança de pestes que alteraram o curso da existência humana, poderia funcionar pedagogicamente para nos desafiar a deixarmos de ser o que somos, para buscarmos ser de outro modo. Mas ainda há muitos que aguardam pelo retorno à normalidade, isto é, ser como um antes que não será mais. Talvez o mais preocupante seja que há outros que buscam existir, bem no centro da pandemia, como se o normal de antes se mantivesse. Uma experiência ilusória, buscando escapar da realidade do agora.

Em um artigo sobre a pandemia, o sociólogo Domenico De Mais cita o livro “A Peste”, de Albert Camus: “a peste pode vir e ir embora sem que o coração do homem seja modificado”. Se assim for, quando o conoravírus se for, as pestes que experenciamos, e não me refiro somente às do campo da saúde, continuarão, ou mesmo se intensificarão. 

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Por Rogério Luís da Rocha Seixas  –  rogeriosrjb@gmail.com

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