(Fotos: Divulgação)
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“Países com um nível maior de educação, com um número grande de bibliotecas e grau elevado de leitura são mais felizes”
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Ricardo Ramos Filho é escritor, com livros editados no Brasil e no exterior. Professor de literatura. Doutor em letras no Programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Desenvolve pesquisa na área de literatura infantil e juvenil, onde vem trabalhando academicamente Graciliano Ramos, privilegiando o olhar sobre seus textos escritos para crianças e jovens. É roteirista de cinema com roteiros premiados. Atua como orientador literário, capacitando clientes na elaboração de seus livros. Cronista das revistas literárias eletrônicas “Escritablog”, “S.P. Review” e “InComunidade” (portuguesa), onde publica mensalmente. Participa como jurado de concursos literários, presidente da UBE (União Brasileira de Escritores). Integrante do Conselho Fiscal da SP Leituras e do Conselho Consultivo da Fundação Padre Anchieta. Sócio proprietário da empresa Ricardo Filho Eventos Literários, onde atua como produtor cultural, realizando festivais e feiras literárias. Possui graduação em matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1986). É filho do escritor Ricardo Ramos e neto de Graciliano Ramos.
Confira a entrevista com Ricardo Ramos Filho
Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário se desenha para a literatura brasileira?
Acho a questão de novas mídias menos importante do que parece. No final tudo se acomodará, conviveremos com livros eletrônicos, de papel, todos misturados. O novo cenário será positivo, haverá maior condição de publicação, além de custos mais baratos. Minha única preocupação é com a questão dos direitos autorais, já que o cenário digital é menos controlado e fácil de burlar.
A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade?
Sim. Não de maneira direta no que escrevo, mas na atividade de escritor como um todo. Tivéssemos um número maior de leitores, valorizássemos mais a leitura e cultura no país, o ofício seria mais bem remunerado. É sabido que a maioria dos escritores precisa trabalhar em atividades diferentes da que gostariam para poder pagar as contas. Se eu pudesse seria apenas escritor.
O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona?
A oportunidade de sonhar acordado e estar em contato com a diversidade, mundos e culturas diferentes. Leio desde muito pequeno, criei o hábito de leitura cedo, sempre fui um leitor apaixonado. Aliás, ser leitor é condição essencial para a minha atividade. Não se consegue escrever bem sem ler bastante.
Qual é a função da literatura na sociedade?
Países com um nível maior de educação, com um número grande de bibliotecas e grau elevado de leitura são mais felizes. Acredito muito que a nossa atual miséria, situação de calamidade pública em que nos encontramos, deve-se ao fato de termos um governo que não valoriza a leitura e a cultura de maneira geral. A leitura torna a sociedade mais sensível e sensibilidade é o que mais falta atualmente em nosso país.
Um crítico literário deve analisar apenas um poema ou a obra como um todo?
Deve ser honesto consigo próprio e entender que sua função, antes de qualquer coisa, é a de ajudar com uma leitura mais especializada do texto. Deve ser humilde para entender que sua leitura será apenas mais uma leitura, não melhor ou mais importante do que qualquer outra leitura. Até porque uma obra rica permite várias leituras diferentes. Partindo daí, pode analisar o que desejar: um poema ou a obra como um todo.
Uma mensagem aos autores iniciantes?
Leiam! Antes de tudo leiam. O nosso treino, oportunidade de desenvolvimento, está em uma leitura abundante. Precisamos ler diariamente, ocupar todo o espaço disponível com a leitura. E não desistam com o cenário hostil que encontrarão pela frente. Boa parte dos editores nega oportunidade de publicação apenas por não conhecer o escritor, sem ler a obra. Se insistirem, como tudo na vida, pacientemente, a oportunidade virá.
O que acha de nossa iniciativa de entrevistar/homenagear renomes de nossa literatura, fazendo, além de uma justa homenagem, um fomento entre o autor consagrado e o autor iniciante?
Acho importante. Todo diálogo é relevante. O encontro entre escritores, olhares mais e menos experientes, proporciona uma troca muito rica. É louvável proporcionar e incentivar tal fomento.