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É Preciso Pensar no Bem dos Outros

Convicções, irreflexões e a banalidade do mal

Pessoas comuns podem cometer atrocidades, sem se dar conta do mal que estão cometendo; porém, não podem deixar de ser responsabilizadas por isso

Colunistas  –  02/06/2021 09:44

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(Foto Ilustrativa)

Convicções extremadas e ausência de reflexão tornam-se uma grande ameaça, especialmente se o indivíduo ocupa um cargo de poder em qualquer área que possa ameaçar a vida humana, a partir de suas ações movidas simplesmente por convicções irrefletidas

 

Praticamente todos nós, quase sem exceção, possuímos convicções a respeito de diferentes assuntos: política, religião, ciência, etc. Ter convicção sobre algo não se apresenta como um fato negativo. Estar convicto pode, inclusive, nos auxiliar a tomar posições e ações construtivas para o bem dos outros. Contudo, quando tais convicções tornam-se verdades absolutas nos alienam de nossa realidade. Caímos na cilada da irreflexão que não significa a simples ausência de pensar, mas sim de refletir a respeito do que se pensa e, por consequência, também com referência ao agir. A reflexão guarda em si a propriedade de buscar evitar que a convicção se transforme em dogmatismo ou fanatismo, algo que, principalmente na dimensão da política, se apresenta com muita frequência, quando nossas convicções são aprisionadas por visões ideológicas que nos afastam da condição de reflexão.

Como resultado dessa irreflexão e o adoecimento de convicções, a nossa história registrou e ainda registra acontecimentos que nos deixam pasmos, pois nos aproximam da barbárie. Um choque que sempre desafia nossas noções de racionalidade, formação humanista, processo educacional e desenvolvimento tecno/científico.

A irreflexão, soterrada pela convicção cega e alienada, nos levou e leva à prática do mal. Um mal banal, refletido pela filósofa *Hannah Arendt, quando ao assistir ao julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann, que levou milhões à morte, por suas convicções e obediência irrefletida, percebeu que não se tratava de uma figura demoníaca, mas alguém que estava convicto de que estava fazendo o certo, segundo sua visão de mundo e sob ordens superiores (1983).

Convicções extremadas e ausência de reflexão tornam-se uma grande ameaça, especialmente se o indivíduo ocupa um cargo de poder em qualquer área que possa ameaçar a vida humana, a partir de suas ações movidas simplesmente por convicções irrefletidas. E como Arendt observou, pessoas comuns podem cometer atrocidades, sem se dar conta do mal que estão cometendo. Porém, não podem deixar de ser responsabilizadas por esse vazio de reflexão e pelas consequências de suas ações.   

*Arendt, Hannah. Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. Trad. Sonia Orieta Heinrich. São Paulo: Diagrama e Texto, 1983. 

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Por Rogério Luís da Rocha Seixas  –  rogeriosrjb@gmail.com

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