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Cultura Violenta

Violência, terror e fundamentalismo em tempos pandêmicos

O episódio do Talibã demonstra que em meio a uma pandemia temos que lidar com outros pandemônios

Colunistas  –  19/08/2021 20:29

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(Foto Ilustrativa)

A vacina contra a violência, o terrorismo e o fundamentalismo passa pela prática ao respeito e reconhecimento da diversidade e a expressão da alteridade, que devem ser vistas como positivas e não como negativas ou ameaçadoras

 

Ainda mal saímos do terror imposto pelo período de pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e passamos a nos defrontar ou reencontrar outras faces de terror e violência, expressos no retorno do grupo radical e fundamentalista islâmico Talibã ao poder no Afeganistão. As imagens de pessoas buscando a qualquer custo fugir da violência fundamentalista religiosa e política deixaram bem claro os ecos do terrorismo, tanto praticado por Estados quanto por grupos radicais, como neste caso. Não podemos negar que em tempos pandêmicos o terror ao coronavírus reflete nosso medo aos fundamentalismos e terrorismos de qualquer tipo.

O retorno do Talibã nos faz recordar da cultura da violência em que vivemos e com ela a abertura de espaço para o cultivo e expressão do fundamentalismo. Como adverte o sociólogo *Octavio Ianni:Desde o sequestro e o narcotráfico à violência urbana e ao terrorismo de Estado, desde os conflitos étnicos e religiosos à destruição criativa, são muitas as formas de violência que se manifestam nas sociedades contemporâneas”. (2004, p. 167).

Esta cultura da violência o terrorismo desestabiliza o que parecia estável, quieto e calmo. Instala-se o medo, a aflição e o terror. Violência, terror e fundamentalismo que se apresentam enquanto uma tríade marcante em um mundo globalizado, que embasado no neoliberalismo e na noção de progresso percebe quão próximos estamos da barbárie e o tamanho de nossa fragilidade, assim como acontece com o surgimento de uma pandemia que atingiu as bases sociais, políticas e econômicas de forma global.

O fundamentalismo, ou as suas diferentes e diversas faces, sustenta-se sob o mito levado ao extremo do povo eleito ou predestinado, segundo Ianni: “A realização da missão civilizatória, com a qual se levará aos outros povos e nações a democracia, a liberdade, a justiça, o bem, a prosperidade, a abundância, o paraíso e a lucratividade. A despeito das adversidades, desvios, malefícios e resistências, com os quais outros povos e nações se manifestam. Tudo isso impregnado pelas ideias de bem e mal, pecado, castigo e redenção, ou Armagedon e Civilização”. (2004, p.273)

Neste ponto, os fundamentalismos e terrorismos de grupos e Estados se assemelham, pois de acordo com Ianni: “Quem são os autos eleitos emissários de Deus que forjam tanta violência? São homens com doutrinas, homens de fé e idealismo, homens que confundem poder com virtude, que não deixam de ser seres humanos, com preferências normais pelo trabalho, o divertimento e a família, mas se tornam personificações, anseios e vida de alguma fé e ideologia”. (2004, p. 273)

Esta situação põe em risco a adversidade e a alteridade, que se tornam ameaças e sua presença passa a ser intolerável, devendo ser inclusive exterminadas. O episódio do Talibã demonstra que em meio a uma pandemia temos que lidar com pandemônios como o do terrorismo e da violência do fundamentalismo político ou religioso, que assim como o coronavírus ameaça a nossa respiração por uma vida saudável e bem vivida. A vacina contra a violência, o terrorismo e o fundamentalismo passa pela prática ao respeito e reconhecimento da diversidade e a expressão da alteridade, que devem ser vistas como positivas e não como negativas ou ameaçadoras.

*Ianni, O. Capitalismo, violência e terrorismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. 

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Por Rogério Luís da Rocha Seixas  –  rogeriosrjb@gmail.com

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