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Crônicas de Humor e Entrevistas Poéticas

Isabel Furini

isabelfurini@hotmail.com

Fazer o Quê?

Primeiro dia de trabalho

O trabalho era fácil; pesquisa de mercado; confiante, Roseli decidiu começar pelo shopping

Colunistas  –  08/09/2021 08:59

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(Foto Ilustrativa)

Roseli aproximou-se a passos firmes, com um formulário na mão. Ao entrar, sua bolsa deu uma batidinha suave contra a estante de vidro transparente, quase invisível

 

Primeiro dia de trabalho.  Roseli vestiu a blusa verde e a calça preta, colar e brincos verdes, combinando com a blusa deram um toque de requinte. Quase igualzinho ao que vestia a Gisele numa revista de modas. Olhou-se no espelho fino e comprido da sala. Levantou o queixo e contraiu o abdome. Estou um xuxuzinho, pensou. O trabalho era fácil. Pesquisa de mercado. Confiante, decidiu começar pelo shopping.

Na primeira loja teve sorte, a dona, muito simpática, preencheu o formulário. Não assinarei nada, esclareceu. Não é para assinar, não estou vendendo nada, é só pesquisa, apressou-se a dizer Roseli.

A segunda loja ainda estava fechada. A terceira era uma loja de sapatos, chiquérrima. Uma estante de vidro, moderna, exibia os sapatos bem junto à vitrine, que quase não se via de tão limpa e transparente. Roseli aproximou-se a passos firmes, com um formulário na mão. Ao entrar, sua bolsa deu uma batidinha suave contra a estante de vidro transparente, quase invisível. Os sapatos, apoiados na estante curva, balançaram e começaram a cair... um a um... Os olhos de Roseli, arregalados, não acreditavam... Viu despencar os sapatos pretos, os tamancos vermelhos, as sandálias rosas... E as marrons....  O ruído que produziam os sapatos ao cair era dilacerante para seus ouvidos. Doeram mais ainda ao escutar um surdo Opppppppssss! do homem da loja. Permaneceu imóvel, como uma criança quando comete um ato reprovado pelos pais. Permaneceu imóvel até a queda do último sapato. Permaneceu imóvel, com desejos de chorar, de sair correndo, de...

- Você ia comprar alguma coisa?  Aposto que não... Vinha vender-me alguma coisa?
- Não, não vendo nada, só faço pesquisa. Pode preencher este formulário? - perguntou Roseli com um fio de voz.

O homem encarou-a, seus olhos claros refletiam facas de ódio.

-  O tempo que eu utilizaria preenchendo o seu formulário agora vou usar arrumando os sapatos. Bom dia, senhorita...

Roseli saiu de fininho. Fazer o quê?

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Por Isabel Furini  –  isabelfurini@hotmail.com

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