(Foto: Arquivo/Divulgação)
Bernardo Maurício era símbolo da resistência teatral em Volta Redonda; bater papo com o artista correspondia a uma aula de história
“A arte do teatro é um processo de amadurecimento, uma evolução. O teatro é uma arte comunitária, democrática, culturalmente eficaz e socialmente útil”. O ator, diretor e professor de teatro Bernardo Maurício, de 82 anos, morreu hoje, 17 de janeiro, no Hospital Regional, em Volta Redonda. Segundo o também ator/diretor Lúcio Roriz, o amigo Bernardo estava internado com Covid-19, sofreu uma parada cardíaca e não resistiu.
- Ele sofreu uma parada cardíaca por volta do meio-dia e, infelizmente, não resistiu. Como estava com Covid, não haverá velório e o sepultamento ainda não tem horário marcado - informou Roriz.
Considerado a maior lenda do teatro na região, o premiado diretor de teatro, professor da maioria dos profissionais de artes cênicas do Sul Fluminense, Bernardo Maurício tinha formação tabladiana, com estágio no curso para 22 encenadores do Estado do Rio, ministrado por Augusto Boal, dentro da “Poética do oprimido”. O encenador, premiado em festivais, era o mais experiente em arte dramática, com cerca de 60 anos na área artística/cultural.
Bernardo foi homenageado no Prêmio OLHO VIVO 2019 na Categoria Conjunto da Obra.
Polêmico, o artista nunca se furtou a dizer o que pensava sobre o cenário teatral da região. Certa vez, declarou em entrevista ao OLHO VIVO: “Muitos jovens artistas saem por aí com ares de quem pensam que sabem, se autointitulam atores e diretores de uma arte milenar e complexa. Isso é perigoso e nocivo, porque atraídos pela luz dos holofotes do sucesso a qualquer custo eles entram pelo caminho da mediocridade, tornando-se canastrões pretensiosos”.
Resistência cultural
Bernardo Maurício era símbolo da resistência teatral em Volta Redonda. Bater papo com o artista correspondia a uma aula de história. Ela adorava contar que ficou preso por 77 dias e enfrentou cerca de 30 interrogatórios por causa de um espetáculo teatral, no Teatro Santa Cecília, que comemorava os 20 anos da Declaração dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), em dezembro de 1978.
Um dos seus espetáculos mais marcantes foi “Sonhos de Uma Noite de Verão”. Outro marco em sua carreira foi a peça montada em 1981 na Praça Brasil, envolvendo 250 atores. Foram mais de três dezenas de espetáculos dirigidos por ele só em Volta Redonda. Na década de 80, criou o Cena (Centro Experimental Novos Atores).
Um artista como poucos, e que vai fazer muita falta!