
(Foto Ilustrativa)
Ele havia ligado dizendo que a queria levar para São Paulo. Minutos depois escutou o ruído do elevador e os passos de um homem cansado
Juliana abriu a pesada porta de madeira e olhou-se no amplo espelho do armário encostado na parede em frente à porta. Avançou olhando a sua figura no espelho. Ergueu os ombros. Tenho 70 anos, pensou, mas não é por isso que vou amolecer, não!
Abriu o armário e acariciou o vestido de noiva pendurado em um cabide branco. Estava nesse lugar desde que ela mesma o costurara, em 1969, aos 18 anos. Sua tia Miriam era professora de costura e estilismo e com ela havia aprendido todos os segredos da profissão. Nunca usou o vestido. Antônio comentava com a família que a pediria em casamento, e ela, ansiosa, já havia costurado o vestido, mas ele decidiu ir para São Paulo a fim de juntar dinheiro. Conseguiu emprego em uma imobiliária e, em poucos meses, casou-se com a filha do patrão. Nunca mais o havia visto até nesse sábado na boda de 50 anos de Neuzinha e Roberto, e como estava velho. Coitado! Esse pescoço magro! Parecia uma uva passa.
Viúvo, sonhava iniciar uma nova vida - ele tem 74 e eu 70, pensava Juliana nesse domingo de manhã enquanto colocava o vestido de noiva. Não conseguiu fechar o zíper. Estou mais gordinha, pensou.
Ele havia ligado dizendo que a queria levar para São Paulo. Minutos depois escutou o ruído do elevador e os passos de um homem cansado. Ele bateu à porta gritando: Juliana! Juliana! Ela abriu.
Ele sorriu ao vê-la com o vestido de noiva.
- Você se casará comigo, Juliana?
Ela tirou o véu que cobria o seu rosto e sorriu.
- Você quer se casar comigo? - Repetiu ele.
Um enorme sorriso de felicidade desenhou-se no rosto de Juliana. As lágrimas começaram a sair de seus olhos. Seus olhos brilhavam. Alegre e triunfante, ela gritou:
- Não! Não! Eu não quero me casar com você. Eu ainda pareço uma mulher de 63 ou 65 anos, e você parece um velho de 80 anos. Observou a figura do homem no espelho.
- Vai... Vai se catar, Antônio!
Ele não disse nada. Saiu cabisbaixo. E ela bateu a pesada porta de madeira. Depois trocou de roupa, pegou a chave do cadeado, abriu-o e jogou o vestido pela janela. Viu lá na rua as pessoas fazendo roda em volta do vestido. Algumas riam, outras olhavam para cima e gritavam: Caiu daquela janela! Juliana, sorridente, sentiu que os sonhos, as mágoas, o complexo de ser uma moça abandonada, tudo isso havia desmoronado junto com o vestido. Sentiu-se feliz.