(Foto Ilustrativa)

Há coisas que nem “adiantar o relógio” irá resolver, pois ele não andará mais rápido pela nossa insistência ou pela nossa vontade pura e simples

 

Uma frase muito refletiva e eternizada por Rubens Alves, teólogo, pedagogo, poeta e filósofo brasileiro, nos leva a expandir bem as ideias a respeito de sua profundidade: “O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração”.

Quando se fala de medir o tempo pelo relógio é o que já conhecemos, que vem de Cronos, o deus grego do tempo, pai de Zeus, ou ao conceito de tempo cronológico (o tempo linear e mensurável), base da palavra “cronologia”. Todos somos, digamos assim, “sujeitos a esse tempo”.

Mas, na segunda parte da frase mencionada acima, fala do medir o tempo com as “batidas do coração”. Seria o medir pela emoção do cotidiano, cada acontecimento, não podendo ser acelerado, mas o viver cada momento como se apenas existisse o agora, não pensando no amanhã.

Leon Tolstói, geralmente referido em inglês como Leo Tolstoy, foi um escritor russo, e disse a respeito do tema algo interessante: “Os dois guerreiros mais poderosos são a paciência e o tempo”. Como precisamos desses “guerreiros” em nosso viver diário para ser mais bem vivido e com toda paciência que o tempo nos reserva.

Machado de Assis, grande escritor brasileiro e presidente-fundador da ABL (Academia Brasileira de Letras), disse: “O tempo é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto”. Como temos lidado com ele? E quais sentidos temos dado a cada instante que passa, muitas vezes, despercebido? Quando percebemos, passou e não volta mais...

O poeta Mario Quintana, sempre espirituoso, deixou essa frase para nossa reflexão: “O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família”. Fala sobre um relógio físico, numa metáfora, por estar “devorando” várias gerações da família porque marca a vida, minutos e segundos de cada um, sempre.

Dalai Lama, título do líder espiritual supremo do budismo tibetano, atualmente ocupado por Tenzin Gyatso, que nasceu em 1935, disse: “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã”. E será que temos vivido o hoje, no presente, pensando mais no passado e futuro? Afinal, daqui a pouco não teremos uma vida presente devido aos desvios de pensamentos e ações voltadas para trás ou para frente e não para o agora.

Osho, um guru indiano, deixou a seguinte frase bem reflexiva: “O futuro não existe; ele é tão não existencial quanto o passado. O passado não é mais, o futuro não é ainda; só o presente é”. E quanta gente se descabela com o ontem ou com o amanhã e, simplesmente, esquece que o hoje precisa ser vivido de forma prazerosa, para que o depois, o vindouro, possa chegar a algo que nos faça bem e tenhamos orgulho de chegar lá.

Acompanhar as batidas do coração é viver o ritmo natural da existência, com todas as suas mudanças, pois o nosso viver não é uma linha reta, mas uma sucessão de acontecimentos, como os picos e vales do eletrocardiograma. O importante é encontrar força e coragem para seguir em frente nos diferentes momentos, aceitando a imperfeição e a mudança, como sugere a frase “O que ela quer da gente é coragem”, de Guimarães Rosa.

Cada batida vale a pena se for guiada por motivos que fazem o coração bater, como gestos, memórias, escolhas e vínculos, que são o que realmente fica quando o coração para de bater.

No livro bíblico de Eclesiastes 3.1, escrito pelo sábio rei Salomão, diz: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. Há coisas que nem “adiantar o relógio” irá resolver, pois ele não andará mais rápido pela nossa insistência ou pela nossa vontade pura e simples. Tudo precisa caminhar no tempo certo, inclusive de Deus, no cronos ou pela “batidas de nosso coração”.

Viva cada momento, intensamente! 

Um forte abraço do Rofa!